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Açúcar - De Cara com o imprevisível

O mercado de açúcar em NY encerrou a semana com ligeira variação no contrato futuro com vencimento para março/23, que fechou a 19.49 centavos de dólar por libra-peso, uma elevação de 16 pontos em relação ao fechamento da sexta-feira anterior.

Os demais meses encerraram com pequena variação negativa entre 2 e 22 pontos, com média de queda de apenas dois dólares por tonelada.

A semana foi relativamente calma na maioria dos mercados de commodities. Tudo indica que com a aproximação do final do ano e a dispersão provocada pela Copa do Mundo de Futebol jogada no Qatar tem contribuído para que os participantes do mercado observem os movimentos e as oscilações com especial cuidado.

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O ritmo de final de ano parece indicar que o momento favorece ao ajuste dos livros, à mitigação de riscos desnecessários e a aversão a estratégias que possam comprometer o resultado do ano. Assim, faz-se apenas o indispensável para não ter que encarar o imprevisível.

Os olhos dos gestores permanecem atentos aos passos chineses. Parece que a situação naquele país acerca dos bloqueios provocados para atingir a estratégia de covid zero se acalmou por aqueles lados dando fôlego aos mercados acionários e também ao mercado de petróleo.

No acumulado da semana, o petróleo tipo WTI recuperou 5.32% seguido pelo Brent 2.57%. O VIX, indicador que mede a volatilidade do mercado acionário americano, mas que também reflete o nervosismo dos investidores globais, apresentou queda de 5.5% na semana. Não é exatamente afirmar que o mar não está agitado, mas a altura das ondas atuais permite a navegabilidade.

No Brasil, continuamos sem saber como será composto o ministério do novo governo que assume o país a partir de 1º de janeiro. Independentemente disso, o real encerrou a semana com alta de 3.58%, cotado a R$ 5.2199 por dólar depois de atingir a mínima de R$ 5.1628. Será que o pessoal da Faria Lima já digeriu a possibilidade de ter Haddad como Ministro da Fazenda? O real se valorizou.

Com a valorização da moeda brasileira e o mercado futuro de açúcar andando de lado, o acumulado da semana mostrou uma retração de R$ 120 por tonelada no açúcar negociado em NY e convertido em reais.

Similar desvalorização afetou as médias mensais dos contratos que cobrem a safra 23/24 e 24/25. Temos sugerido atenção nas fixações de preço com a recuperação do açúcar em NY e com a recente desvalorização do real (agora se recuperando). Vale a pena olhar o histórico do açúcar a seguir.

De 2004 para cá, convertendo os fechamentos diários em reais por tonelada pela cotação do dia fornecida pelo Banco Central e ajustada pela inflação usando o IPCA, dividimos os valores do açúcar em quatro quartis: a) 25% das vezes a cotação ficou abaixo de R$ 1,550 por tonelada; b) 25% ficou entre R$ 1,550 e 1,825 por tonelada; c) 25% entre R$ 1,825 e R$ 2,200 e d) 25% das vezes acima de R$ 2,200. Esse é um bom parâmetro para usar quando o assunto é fixação de preços do açúcar para exportação. Em tempo: o mercado fica acima dos R$ 2,500 por tonelada apenas 10% dos eventos desde 2004!

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Em tese, os consumidores industriais deveriam vender puts (opções de venda) no preço de exercício correspondente ao primeiro quartil e as usinas vender calls (opções de compra) no preço de exercício que esteja em linha com o quarto quartil. Uma boa estratégia para diminuir o custo de aquisição de matéria-prima ou para agregar valor à usina.

Os fundos especulativos seguem comprados uma imensidão de 158,000 lotes em NY. Julgamos que essa posição gigantesca carrega um alta dose de volatilidade. Com a queda no preço do hidratado na semana ao redor de 1.2%, o desconto do combustível subiu para cerca de 250 pontos em relação ao açúcar. A perspectiva de eventual safra mais açucareira ameaça fortemente a posição dos fundos, cuja vulnerabilidade já foi discutida aqui. Aguardemos.

Copa do Mundo está dando uma demonstração de como os cisnes negros aparecem em todos os eventos humanos sempre nos surpreendendo. Quem diria que a Alemanha seria desclassificada, assim como o Uruguai; ou a Arabia Saudita ganhar da Argentina de Messi, a Coreia do Sul batendo Portugal e o Japão ganhando da poderosa Alemanha e da Espanha candidatas ao título? Sabe quais seleções ainda não perderam nesta Copa? Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, Marrocos e Croácia!!!

Como diria Nelson Rodrigues, “o futebol sem o Imponderável de Almeida seria muito sem graça”. E é isso que faz dele um esporte apaixonante. E essa Copa está sofrendo um ataque de cisnes negros. Aposto que o campeão será um desses…

E os cisnes negros no nosso mercado? Você já pensou sobre isso? Que tal comprar uma put (opção de venda) de 15-16 centavos de dólar por libra-peso para julho de 2023? Lembrando que essas proteções são para eventos improváveis que trariam um impacto no seu P&L. Acho difícil que o açúcar possa cair para 15-16 centavos de dólar por libra-peso, mas eu também achava que o Japão era carta fora do baralho.

Por Arnaldo Luiz Corrêa, diretor da Archer Consulting, via Jornal Cana

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