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BANCOS AMPLIAM USO DE RECURSOS PRÓPRIOS PARA FINANCIAR SAFRA

Expectativa de safra recorde e baixa disponibilidade de crédito com subvenção do Tesouro, leva bancos a aumentar oferta de crédito para o produtor

O aquecimento do setor agrícola brasileiro nos últimos anos e o início de produção de uma safra recorde resultou em expansão acelerada na demanda por crédito. As contratações dos programas do Plano Safra subvencionados pelo Tesouro Nacional cresceram 39% nos quatro primeiros meses da safra 2021/2022, atingindo R$ 124,5 bilhões.

Por trás desses números, há outros de vulto. O PIB do setor aumentou 9,81% nos seis primeiros meses de 2021, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP). A safra atual deve chegar a 288,61 milhões de toneladas, 14,2% superior à anterior.

O ritmo da atividade no campo fez com que o dinheiro destinado aos programas subvencionados acabasse nos três primeiros meses da safra, o que só ocorreu no quinto mês na safra passada. Com isso, os bancos passaram a destinar mais recursos próprios para suprir a demanda do setor. As restrições orçamentárias do governo para o Plano Safra 2021/2022 aumentaram a procura por crédito livre oferecido por instituições financeiras e os CPRs, títulos de crédito rural, tornaram-se o produto de maior crescimento no financiamento do agronegócio, que deve ser mantido na próxima safra.

O cenário atual, contudo, tem desafios pela frente. A alta da Selic, que saiu de 2% na safra passada para 7,75% em novembro, tornará o crédito livre mais seletivo e a alta do dólar tende a arrefecer após as eleições de 2022. Assim, a próxima safra deve ter câmbio menos favorável no momento de obter receita (quando a safra será colhida) enquanto os investimentos ocorrerão com o dólar elevado. Há riscos de o produtor plantar com dólar alto e colher com dólar baixo. Mas os resultados dos nove primeiros meses do ano são alentadores.

O Banco do Brasil, maior financiador do agronegócio no Brasil, fechou os primeiros nove meses com uma carteira de financiamento de R$ 225,8 bilhões, 18,5% superior ao de igual período de 2020. Os desembolsos nos três primeiros meses da atual safra foram de R$ 46,1 bilhões, 60% a mais do que a anterior. Também houve crescimento nos títulos de agronegócios, 483% no Certificado de Direito Creditório do Agronegócio (CDCA) e 51,3% no CPR. “São as novas formas de financiamento”, diz José Ricardo Forni, vice-presidente de gestão financeira.

No Itaú BBA, a carteira de crédito aos produtores rurais subiu 27,5%, chegando a R$ 54 bilhões este ano, com alta de 150% no número de clientes. “Temos investido muito no agronegócio”, diz Pedro Fernandes, diretor de agronegócios. Atualmente, 80% da carteira de financiamento do banco ao setor vem de recursos próprios. “O carro chefe é o crédito rural e mais recentemente a CPR, que passou a ser o produto mais representativo da carteira”, diz. Entre os programas com taxas equalizadas, o ABC, voltado para investimentos que reduzem impactos ambientais, é destaque. O banco lançou o programa CPR Reserva Mais, que reduz taxas caso o produtor mantenha a reserva legal acima do exigido pela legislação. A primeira operação foi fechada em novembro.

O Santander é outro que direcionou foco para o agronegócio. A carteira de R$ 6 bilhões em 2015 subiu para R$ 25 bilhões e deve encerrar o ano com R$ 27 bilhões. “Há mais concorrência hoje”, diz Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do Santander, acentuando a complexidade do cenário atual com a Selic em 7,75%, mas com uma curva de um ano a 12%, o que estimulou a corrida por crédito subsidiado, que já acabou

O banco vem ampliando financiamentos com recursos próprios, sobretudo para os produtores de soja, milho e pecuária. Os produtores estão capitalizados, comprando mais máquinas à vista. Aguiar acredita que a alta de juros pode adiar investimentos em máquinas.

O Bradesco, maior repassador de recursos dos programas agrícolas do BNDES, passou a operar em novembro com produtos equalizados pelo Tesouro no financiamento de máquinas e equipamentos, tornando-se o primeiro banco privado habilitado a atuar no segmento. “Passamos de R$ 40 bilhões de portfólio em outubro”, com recursos obrigatórios e livres, diz Roberto França, diretor de agronegócios. Do total, cerca de R$ 15 bilhões são recursos direcionados.

A expectativa é de continuidade do ritmo de demanda no ano safra de 2022. “O campo no Brasil continua crescendo. Para o produtor rural aumentar a produtividade tem que investir. O mais sensível é a taxa de juros, mas nosso apetite para financiar não mudou.”

Fonte - Valor Econômico

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