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CORRIDA PELO HIDROGÊNIO VERDE ENVOLVE US$ 300 BI

O domínio da tecnologia para produção de energia a partir do hidrogênio é uma busca científica que começou na década de 1970. “Esta é a terceira onda de investimentos na técnica e a mais promissora”, comenta o físico Ennio Peres da Silva, que coordena o Laboratório de Hidrogênio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A primeira foi provocada pela crise do petróleo (1973). A questão do hidrogênio voltou à pauta, já com apelo ambiental, com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto [2005]. “O que vemos agora é uma combinação de fatores que podem, de fato, alavancar a fonte energética”, completa Silva.

Entre os elementos citados estão os investimentos em soluções para descarbonização, o avanço tecnológico e a entrada da China na produção em escala de células de combustível (uma espécie de pilha para armazenar e transportar o hidrogênio). O país asiático anunciou, recentemente, aportes de US$ 5 bilhões para estimular o mercado de veículos com células de combustível e desenvolver uma rede de abastecimento local. “Para emplacar, o hidrogênio tem de ser competitivo, o que vai exigir equilíbrio de preços e boa logística de distribuição”, diz Silva.

A descarbonização é, no entanto, o grande apelo do hidrogênio - que, se produzido a partir de fontes renováveis de energia, não emite gases do efeito estufa, sendo um combustível neutro para o meio ambiente. Para produzir o hidrogênio verde, é preciso utilizar eletricidade, de fontes renováveis como a solar ou eólica, para separar as moléculas de hidrogênio e de oxigênio da água. A técnica permite “estocar” a energia e até gerar um combustível líquido que pode ser transportado por navios. Mas ainda há desafios tecnológicos para estabilizar o hidrogênio e armazená-lo de forma eficiente. “Se vencermos as barreiras técnicas, o hidrogênio pode resolver o lado da oferta de energia, reduzindo a sazonalidade da produção renovável e contribuindo para a segurança energética”, comenta Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica.

A corrida pelo hidrogênio verde é global e a carteira de projetos soma investimentos de mais de US$ 300 bilhões até 2030. O número foi levantado pelo mais recente mapeamento do Hydrogen Council - iniciativa que reúne empresas como 3M, Airbus, Air Liquide, General Motors, Honda, Siemens Energy e Toyota. Em outro estudo, a instituição aponta que, até 2050, o hidrogênio responderá por 18% da energia do planeta.

No Brasil, o Plano Nacional de Energia 2050 aponta o hidrogênio como uma tecnologia inovadora e de interesse para as metas de descarbonização. Para fomentar o mercado, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) publicou as bases para a consolidação da estratégia brasileira do hidrogênio, que servirá como referência para a construção do mercado para a fonte energética no país. Com a entrada da fonte no planejamento energético, os Estados já começaram a se movimentar.

O Ceará, por exemplo, quer ser tornar hub global para o desenvolvimento tecnológico e produção do hidrogênio verde. O Estado está construindo uma usina, com capacidade de produção de 40 GW, que entra em operação em 2022, no Complexo de Pecém. Entre as vantagens competitivas, o Ceará reúne produção de energia limpa (eólica e solar), boa estrutura portuária e conhecimento acadêmico para tocar os projetos. “Mantemos colaboração com empresas para projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D)”, disse Augusto Teixeira de Albuquerque, próreitor da Universidade Federal do Ceará, durante o seminário internacional Hidrogênio Verde no Ceará, realizado no último dia 14 pela Editora Globo.

Segundo o governador Camilo Santana (PT), o Ceará já fechou parcerias para garantir a produção de 20 GW. Entre as empresas estão White Martins, Fortescue, Neoenergia, Eneva e Qair. “Criamos um ecossistema forte. Trabalhamos em cooperação técnica com as universidades e empresas, mas também formatamos estratégias de governo para o hub”, comenta Santana.

A meta é atender às demandas locais, mas também exportar hidrogênio para a Europa, aproveitando a posição geográfica do Ceará. “A demanda europeia é de 80 GW de energia na forma de hidrogênio verde nos próximos anos, mas a capacidade de produção no continente deve chegar a 20 GW”, disse Armando Abreu, presidente da Qair Brasil, durante o evento.

Outro Estado que está apostando no hidrogênio verde é Minas Gerais, que lançou, em agosto, o programa Minas do Hidrogênio. A estratégia é utilizar a abundância de recursos como água, biomassa e biocombustíveis (etanol e metano) para obter o hidrogênio. A estratégia mineira é a de investir em todos os elos da cadeia produtiva, o que inclui desde a obtenção das moléculas até a produção de equipamentos e o desenvolvimento tecnológico do setor.

Fonte - Valor Econômico

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