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CANA: RISCO DE REDUÇÃO DO ETANOL NA GASOLINA ACENDE ALERTA

O Brasil tem buscado ampliar as formas alternativas de geração de energia elétrica, para além da fonte hidráulica. E as fontes de energia como a eólica, a solar e da biomassa já estão sendo colocadas em prática, o que posiciona o Brasil num seleto grupo de vanguarda mundial na produção de energia renovável e sustentável. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Paulo Cesar Domingues, detalhou esse trabalho.

O secretário citou que o Brasil tem 48% de fontes renováveis na matriz energética enquanto o resto do mundo tem apenas 14%. E relatou que o processo de transição do Brasil para o uso de fontes de energia renováveis não é recente e já conta uma longa trajetória.

Como é a matriz energética do Brasil atualmente?

A matriz energética brasileira é uma das mais renováveis entre todos os países com as grandes economias mundiais, 48% da nossa matriz é renovável. Para você ter uma ideia, a média mundial é de 14% e se compararmos com os países mais desenvolvidos, por exemplo, os países que fazem parte da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], essa participação é ainda menor, é 11%. E o que significa 48% de renováveis na matriz? Significa que toda a energia produzida e consumida no Brasil é originária de fontes energéticas renováveis, como o sol, o vento, a água e a biomassa. E se analisarmos agora a matriz de energia elétrica, a renovabilidade da nossa matriz é ainda maior. Em 2020, terminamos o ano com 85% da nossa matriz renovável, enquanto a média mundial é de apenas 28%. Isso demonstra a importância da nossa matriz e nos deixa orgulhosos como brasileiros de ter uma matriz tão renovável.

O Presidente Jair Bolsonaro citou, na 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, esse dado da matriz elétrica renovável.

Sim, o Brasil é conhecido mundialmente no campo da energia limpa e renovável. É por isso que a Organização das Nações Unidas escolheu o Brasil como um dos países líderes no tema Transição energética para uma economia de baixo carbono, no diálogo de alto nível das Nações Unidas sobre energia.

Podemos dizer, com certeza, que o Brasil é um protagonista nessa questão da energia limpa e renovável?

Sim, o Brasil tem grandes recursos naturais que podem ser utilizados para o atendimento das demandas energéticas brasileiras. Temos um potencial enorme de energia, solar, eólica, um potencial hidráulico ainda não totalmente aproveitado. Então, o Brasil é grande referência e é respeitado no mundo todo com essa potencialidade e também de novas tecnologias que estão surgindo. O Brasil pode ser um grande produtor, consumidor e exportador energético para o mundo todo nesse processo de transição energética mundial.

Falando um pouco da dependência que o Brasil ainda tem em relação à fonte hidráulica para se produzir energia elétrica. O que vem sendo planejado para termos mais variabilidade e não ficarmos tão dependentes da fonte hidráulica, principalmente por conta dessa questão da escassez hídrica que se repete?

O Brasil ainda tem uma dependência muito grande da fonte hidrelétrica, que está se reduzindo ao longo dos tempos. Para se ter uma ideia, há 20 anos, 85% de toda a energia elétrica gerada no Brasil era originária da fonte hídrica. Hoje em dia, são 65% e 20% complementado por outras fontes. E por que isso tem acontecido? Primeiro pela dificuldade na implantação de novos projetos hidrelétricos no país e os projetos que são implantados são projetos de pequeno porte. E outro fator é que esses projetos, além de pequenos, têm uma capacidade de armazenamento de água muito pequena, são os projetos que chamamos de fio d'água. Eles não permitem armazenar água nos períodos de chuvas, de cheia do rio, para utilização nos períodos secos.

Essa é a característica das usinas a fio d'água, elas são muito dependentes do regime hidrológico. Então, num período de escassez hídrica como estamos vivendo agora, as usinas a fio d'água vão ter uma geração muito pequena. Se tivesse reservatórios de acumulação elas poderiam acumular água, como tínhamos no passado reservatório capazes de acumular água para vários períodos de seca.

Por isso que o planejamento é estratégico justamente para diversificar essa geração de energia elétrica no país?

Isso, por nossa sorte, como temos muitos recursos naturais no Brasil, quando começamos a perder a capacidade das hidrelétricas no atendimento às demandas de energia elétrica no Brasil surgiram outras fontes também renováveis e competitivas. Primeiro a bioenergia, a biomassa que foi muito importante na década de 80, além de produzir o etanol, que é importante para o setor automotivo, começou-se também a queimar o bagaço da cana para produção de energia elétrica. E depois tivemos a energia eólica e, mais recentemente, a energia solar. Então, são três fontes, a biomassa, a energia eólica e a energia solar.

Mas tem um problema, a energia eólica e a solar são fontes intermitentes, elas não são contínuas, não tem a geração contínua de energia. E a biomassa é fonte sazonal, tem os períodos de safra que tem a biomassa e outro período não, por isso que é importante complementar com outras fontes, principalmente a geração termelétrica. O Brasil tem um potencial muito grande de gás natural agora no pré-sal, então, o que estamos fazendo é usando o gás natural como complementar nesses períodos de baixa hidraulicidade e intermitência das fontes renováveis. Então, o que fazemos no ministério é a diversificação da matriz, tentar diversificar ao máximo para não ficar totalmente dependente da fonte hidráulica.

O maior risco que o setor sucroalcoleiro corre hoje é ver a mistura de etanol na gasolina ser reduzida pelo governo federal por conta de um potencial problema de desabastecimento. As afirmações são de Arnaldo Luiz Corrêa, consultor, palestrante, técnico para arbitragens e professor de gestão de risco em commodities agrícolas, em seu perfil no LinkedIn. “Esse é um cenário que deve ser evitado a qualquer custo, pois coloca em xeque a expansão, a consolidação e a sustentabilidade do setor”, afirma.

“Outro risco é a migração dos produtores de cana para outras culturas que oferecem melhor rentabilidade, maior flexibilidade e maior disponibilidade de instrumentos financeiros que lhes permitam maximizar os ganhos na produção. Veja a soja, por exemplo. O produtor da leguminosa consegue por meio de uma operação de barter, com emissão de CPR junto às principais empresas de fertilizantes e insumos trocar sacos de soja por unidades desses produtos, se livrando do risco nocivo de variações de preço. O fornecedor/produtor de cana não encontra essa facilidade”, completa.

Outro ponto que merece ampla discussão, segundo ele, é o Consecana, a metodologia que define a remuneração do produtor de cana, que sempre buscou representar com maior transparência possível o valor da cana dentro da cadeia produtiva. “Ninguém duvida que se trata de um modelo que fez sucesso a ponto de ser copiado por outros produtos agrícolas. No entanto, modelos precisam ser atualizados de tal maneira que melhorem a efetividade e otimizem resultados na continua busca pela eficiência”, indica.

“Mas, o que está faltando ao Consecana? Já há alguns anos tenho alertado acerca da ineficiência do indicador quando nos deparamos com mercados invertidos, que é o caso agora. Primeiramente, vamos explicar o que é um mercado invertido: é quando o preço dos contratos futuros com vencimento mais curto é maior do que o preço dos contratos futuros com vencimento mais longo. Isso normalmente ocorre quando existe uma disponibilidade menor do produto ou quando a curva da moeda (real) distorce os preços futuros em centavos de dólar por libra-peso em função da disparidade entre as taxas de juro interna e externa, que é o caso agora”, conclui.

Por Leonardo Gottems

Fonte - Agrolink

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