ANTES VISTA COMO AMEAÇA, MERCADO GLOBAL DE AÇÚCAR AGRADECE INÍCIO DA SAFRA DA ÍNDIA
A Índia pode ser o único país capaz de preencher uma lacuna de oferta global de açúcar com o fim da safra brasileira, tornando o mercado mundial de açúcar grato pelo país asiático que já foi visto como um ameaça à estabilidade do mercado.
“Sem a Índia preencher essa lacuna, de novembro a março ou abril, o mercado global de açúcar teria um sério problema”, disse Paulo Roberto de Souza, presidente-executivo da Alvean Sugar SL, maior trader de açúcar do mundo.
As políticas açucareiras da Índia, que incluem grandes subsídios, têm sido questionadas há anos na Organização Mundial do Comércio (OMC) por concorrentes como o Brasil e a Austrália.
Em entrevista, Souza disse que a compra de açúcar está prestes a aumentar, mesmo com a queda da safra atingida pela seca no Brasil, maior produtor, e os custos da commodity, bem como do frete marítimo, aumentaram acentuadamente.
Ele disse que os países consumidores de açúcar têm dependido fortemente dos estoques disponíveis durante o ano para evitar o pagamento de altos valores de frete e açúcar, acrescentando que esses estoques estão atualmente em níveis criticamente baixos.
"Agora eles não têm escolha", disse ele, esperando um aumento nos pedidos no mercado que terão de ser atendidos pelos produtores indianos, mas a um preço mais alto.
Os preços do açúcar estão perto de seus maiores desde o início de 2017, principalmente devido à baixa produção no Brasil, maior produtor, após secas e geadas.
O departamento de pesquisa de Alvean não vê muita melhora no Brasil na próxima safra, esperando uma safra de cana de cerca de 530 milhões de toneladas e uma produção de açúcar em torno de 32-32,5 milhões de toneladas para a região Centro-Sul.
“Os campos sofreram muito e parece que teremos La Niña no ano que vem, o que significa menos chuvas no Centro-Sul”, disse Souza.
A Alvean projeta o déficit global de abastecimento para quase dobrar em 2021/22 (outubro-setembro) em relação ao ano anterior para até 6 milhões de toneladas, enquanto vê o uso global de açúcar crescendo 1,2% em 2021/22, de 0,7% na temporada anterior, conforme países reabrem após a pandemia.
Souza diz que os preços do açúcar terão que aumentar ainda mais para atrair vendas indianas o suficiente para preencher a lacuna do mercado.
Ele diz que a paridade de exportação do açúcar indiano - o equivalente aos preços domésticos - está atualmente em torno de 21 centavos de dólar por libra-peso, já acima dos futuros de Nova York.
Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira; Edição de Kirsten Donovan e David Gregorio
Fonte - Notícias Agrícolas