ESTIMATIVAS DO IAC APONTAM QUE SETOR SUCROENERGÉTICO INVESTE R$ 690 MILHÕES POR SAFRA NA PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS
A estiagem registrada nos estados do Centro-Sul até o momento já é considerada a pior dos últimos 91 anos, de acordo com Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Um levantamento da consultoria Datagro com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que a ocorrência de incêndios em canaviais paulistas disparou nos primeiros dias de setembro. Apenas nos primeiros nove dias deste mês, ocorreram 920 focos em lavouras de cana no Estado, número 47% maior que os 624 do mesmo período de 2020.
Para debater o tema, a Raízen, com apoio da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e do Instituto Agronômico (IAC), realizou na última terça-feira (14) o Webinar “Prevenção e Combate a Incêndios em Canaviais”.
Durante o evento, o diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Antônio de Padua Rodrigues, explicou que o setor sucroenergético nacional não é o responsável pelos incêndios ocorridos em lavouras de cana. Segundo ele, na maioria das vezes, esses focos ocorrem pela negligência da própria população. “Soltura de balões, bitucas de cigarro acessas jogadas pelas janelas dos carros, lixo na beira das rodovias e atos religiosos estão entre as principais causas. Atos criminosos também são bastante comuns.”
O profissional observou que o segmento canavieiro é, na verdade, um dos mais prejudicados por essa situação. “Não temos interesse algum no fogo. Desde o início do século, o setor vem abolindo a prática da queima da palha da cana antes da colheita, implantada na década de 1960 visando aumentar o rendimento do processo e diminuir a incidência de ataques de animais peçonhentos. Hoje, praticamente toda a colheita do Centro-Sul é feita com o auxílio de máquinas, que colhem com muito mais eficiência uma cana crua. Apenas no Estado de São Paulo, 99,8% de toda a cana cultivada é colhida com máquinas e sem o uso do fogo.”
Pádua ressaltou, ainda, que nos últimos anos o segmento investiu mais de R$ 4 bilhões na aquisição de colhedoras e caminhões transbordo, requalificou cerca de 400 mil trabalhadores do corte manual e adequou suas áreas de cultivo, uma vez que a colheita mecanizada necessita de terrenos com baixa declividade e sem pedras para viabilizar as manobras e colher com eficiência. “Não faria sentido andar para trás.”
Também presente no evento, o diretor-geral do Instituto Agronômico (IAC), Marcos Landell, afirmou que o pacote tecnológico disponível atualmente para o setor não contempla mais a cana queimada. “A parte de nutrição e adubação dos canaviais mudou de maneira muito significativa. Foram realizados novos trabalhos de calibração dos micronutrientes e mudanças do uso de potássio e cálcio, por exemplo. Sem falar nas variedades atuais, que contam com características agronômicas – como o porte ereto – muito mais adaptadas a esse novo ambiente.”
Landell relatou, também, que o fogo causa perdas das operações já realizadas após a colheita do canavial, como adubação e controle de pragas. “É um desastre econômico para usinas e produtores, que terão que refazer toda o manejo das áreas. Além disso, a ocorrência de incêndios também pode ocasionar perda de vigor em canaviais já brotados, reduzindo a população de colmos e acarretando num maior número de falhas. O resultado é menor produção no ciclo seguinte.”
Por conta de tantos prejuízos, fica fácil entender o porquê o setor canavieiro não é o responsável por esses incêndios – como grande parte da população acredita. Pelo contrário, ele é o que mais trabalha para evitá-los, como revela uma pesquisa conduzida pelo Centro de Cana do IAC e divulgada durante o Webinar da Raízen.
De acordo com os dados apresentados, o segmento investiu em 2020 cerca de R$ 228 milhões em prevenção e combate a incêndios numa área levantada de 3,2 milhões de hectares. Com base nesses números, Marcos Landell estima que nos 10 milhões de hectares de canaviais espalhados pelo Brasil, o investimento total figure na ordem de R$ 690 milhões. “Diante disso, podemos facilmente afirmar que o fogo não combina mais com a cana.”
Por Leonardo Ruiz
Fonte - CanaOnline