ALVEAN VÊ DÉFICIT DE AÇÚCAR DE ATÉ 6 MILHÕES DE TONELADAS EM 2021/22
Maior trading de açúcar do mundo, a Alvean, da brasileira Copersucar, vê um aumento da escassez de açúcar na safra internacional 2021/22, que começa em outubro. A companhia prevê que a oferta global ficará 5 milhões a 6 milhões de toneladas abaixo da demanda, em um cenário que se deve principalmente ao clima adverso que deve continuar afetando a produção brasileira e de outros países.
Caso se confirme, essa será a terceira temporada consecutivo de déficit. A projeção da Alvean é ainda maior que a de outros agentes, como a Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês), que divulgou na semana passada estimativa de déficit de 3,8 milhões de toneladas.
A oferta reduzida também marca a atual safra internacional, que termina no fim deste mês, e tem puxado a alta dos preços na bolsa de Nova York, que já subiram quase 50% em 12 meses. Para a temporada que termina agora, a Alvean vê um déficit de 4 milhões de toneladas, que ocorrerá após o déficit de 3 milhões de toneladas na safra anterior. Com isso, em três temporadas, o consumo deve ultrapassar a produção global em 12 milhões de toneladas.
A seca histórica que o Brasil vive tem sido determinante para essas duas safras seguidas de baixa oferta global. “A próxima safra [do Centro-Sul do Brasil] não será um desastre, mas não terá recuperação forte. Para que isso ocorresse, teria que haver muitos fatores positivos ao mesmo tempo, o que não vemos”, disse Paulo Roberto de Souza, CEO da Alvean, ao Valor. De outros países tampouco deve vir oferta adicional relevante, ainda que o preço continue a subir e torne ainda mais rentável a produção de açúcar, o que estimularia a oferta.
Souza não acredita que o mercado do adoçante esteja em um “superciclo de commodities”, já que não estão presentes fatores vistos na disparada de 20 anos atrás, como crescimento da China, urbanização e avanço dos alimentos industrializados. Ele não descarta, no entanto, a possibilidade de que o mercado de açúcar e de outras commodities agrícolas esteja agora sendo afetado por um outro elemento: as mudanças climáticas.
“Vemos longos períodos de aquecimento do Oceano Pacífico, e, no Brasil, uma seca histórica. É cíclica ou tendência? É a questão de 1 trilhão de dólares, e ninguém tem a resposta ainda”, disse.
Depois das sucessivas intempéries climáticas, agora agravadas por incêndios nas lavouras, a trading, hoje controlada integralmente pela Copersucar, estima que a moagem de cana no Centro-Sul nesta safra deve sofrer uma “morte súbita” na segunda quinzena deste mês e acabar em 515 milhões de toneladas – abaixo das piores estimativas do mercado, de 520 milhões de toneladas. A empresa acredita inclusive que a produtividade dos canaviais já está com quebra de 20% a 24%.
Daqui em diante, os canaviais ainda têm 70% de chances de enfrentar um La Niña, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), o que reduz as chuvas de verão no Centro-Sul. Com isso, a região deve começar a próxima safra local (2022/23) com um potencial de colheita que a Alvean estima em até 530 milhões de toneladas – bem distante dos mais de 600 milhões de toneladas da safra passada.
Souza ressalta que, como as usinas já estão bem próximas do potencial máximo de produção de açúcar que as indústrias permitem, não deve haver uma produção adicional muito maior, ainda que o preço estimule. A Alvean trabalha com a estimativa de produção no Centro-Sul de 31,5 milhões de toneladas de açúcar neste ciclo e 32 milhões de toneladas no próximo, abaixo do recorde de 38 milhões de toneladas alcançado na safra passada. As projeções, se confirmadas, indicam que o país “enxugará” da oferta global 12 milhões de toneladas de açúcar em duas safras.
Outros países produtores tampouco oferecem alívio. A Índia, com o maior potencial, deve produzir, no máximo, 31 milhões de toneladas na nova safra limitada, volume igual ao do ciclo atual, já que o volume adicional que deve produzir, de 3,5 milhões de toneladas, virará etanol. A perspectiva de chuvas de monções 10% abaixo da média nesta safra também não favorecem um aumento de produção. E, entre outras regiões produtoras, como Europa e Rússia, a oferta também está limitada por baixa produtividade.
Sob esse cenário, Souza acredita que os consumidores vão “aceitar” os preços de açúcar mais elevados, assim como os fretes marítimos também mais altos. Em alguns países, já há preocupação com o abastecimento interno, como no Egito e no Paquistão, que recentemente fizeram leilões internacionais para comprar 200 mil toneladas de açúcar cada.
“Quando governos entram [na compra], é sinal de que a luz mudou de amarela para vermelha. Vão garantir o abastecimento porque a iniciativa privada não está dando conta”, diz. E, em algum momento, ele aposta na volta da China ao mercado, fechando o ano com importação de 5 milhões de toneladas.
Ainda que a pandemia tenha desacelerado o consumo de açúcar, ainda há crescimento. Até então, estimava-se um aumento do consumo global entre 1,5% a 2% ao ano. Para esta safra, a Alvean vê um aumento de 0,7%, acelerando para 1,1% na próxima safra.
Fonte - Valor Econômico