CLIMA INSTÁVEL VAI ESTENDER ALTA DE PREÇOS DO AÇÚCAR, DIZ TEREOS
As piores condições climáticas em décadas no Brasil terão impacto duradouro sobre os preços globais do açúcar, que já estão perto das máximas em quatro anos, de acordo com o segundo maior produtor mundial da commodity.
A cotação do açúcar sobe com a preocupação de que as fortes geadas e a pior seca em quase um século no país causem perdas significativas na produção, o que piora o cenário de uma oferta global já apertada. Temperaturas extremas também impulsionam os preços do café e chamam a atenção para a inflação global de alimentos.
“Estamos entrando em um ciclo de alta dos preços da commodity”, disse Pierre Santoul, CEO no Brasil da francesa Tereos. Os preços do açúcar devem se manter em alta por até 18 meses, disse.
Devido ao clima adverso, a moagem de cana-de-açúcar da Tereos pode cair para o nível mais baixo desde a safra 2009-10, para 16,6 milhões de toneladas, ou 21% abaixo dos 20,9 milhões esmagados em 2020-21.
Os problemas climáticos têm levado a revisões das estimativas de produção do Centro-Sul para níveis tão baixos quanto 490 milhões de toneladas, o que representaria queda de 19% em relação à safra anterior. Na segunda quinzena de julho, o teor de açúcar na cana na região caiu na comparação com o ano anterior, enquanto a produtividade da cana encolheu 18%, segundo relatório da Unica na terça-feira.
Mesmo com usinas acelerando a colheita para evitar mais perdas nos canaviais, a extensão da queda de qualidade ainda é desconhecida, sugerindo que mais rebaixamentos das projeções para a safra são possíveis, disse Santoul.
Além das geadas, a maior parte dos canaviais do Centro-Sul apresentam níveis de água do solo abaixo de 10% frente ao mínimo de 60% exigido para o desenvolvimento das lavouras, segundo a Somar Meteorologia.
A Tereos tem tomado medidas para mitigar os efeitos do clima na safra do próximo ano, como fertiirrigação adicional, disse Santoul. Também espera escapar da escassez de mudas, que deve reduzir o plantio em uma parte significativa do Centro-Sul, já que a empresa possui produção própria.
O cenário sombrio pode ser desanuviado se o clima melhorar até outubro e trazer volumes de chuvas normais nos meses seguintes, afirmou.
Por Fabiana Batista
Fonte - Bloomberg