CLIMA DESFAVORÁVEL AMPLIA A QUEBRA NA PRODUÇÃO DE CANA
A colheita de cana no Centro-Sul registrou, na primeira metade de julho, sua maior perda de produtividade desde o início da safra atual (2021/22), iniciada em abril. Com redução de 14% no volume de cana colhido por hectare na última quinzena, a produção de açúcar e etanol hidratado está sendo reduzida para preservar a oferta de etanol anidro (de mistura à gasolina).
Segundo analistas, a oferta continua a atender a demanda por açúcar e biocombustível, ainda que a redução dos volumes venha sustentando os preços. Mas há receio com os impactos das novas geadas previstas para esta semana, além de uma continuidade da seca, que já vem castigando as lavouras.
Na primeira metade de julho, foram processadas 45,6 milhões de toneladas de cana, próximo da quinzena anterior, porém 2,4% menor que a moagem do mesmo período da temporada passada, segundo dados da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica).
Um levantamento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) com 24 usinas indicou redução anual de 14% na produtividade, alcançando 68,2 toneladas por hectare. Até a quinzena anterior, a quebra acumulada do rendimento agrícola estava em 10,5%, refletindo os impactos da seca que começou ainda no ano passado, na fase de brotação da cana, e que se prolonga por este ano na fase de desenvolvimento das plantas.
“As baixas temperaturas observadas no início do mês também devem ter exigido alterações no cronograma de colheita em algumas regiões, impactando o rendimento da lavoura colhida”, avaliou Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, em relatório. Em geral, canaviais afetados por geadas têm que ter a colheita antecipada para que se evite perdas adicionais à produtividade.
Para Lígia Heise, da consultoria StoneX, o mercado espera agora para conhecer os impactos das geadas da semana passada e das que devem ocorrer nesta semana. Pode contar a favor dos resultados das próximas quinzenas a base de comparação, já que a segunda metade da safra passada (2021/22) teve produtividades menores, diz Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A. “Mas a produtividade deve continuar ruim. A queda deve ser na casa dos 10%”, avalia. Isso sem considerar eventuais impactos de uma nova geada, que podem afetar mais os canaviais que já vinham sofrendo com a seca, acrescenta.
O produto mais afetado até agora é o etanol hidratado. Na quinzena, a produção caiu 13%, para 1,3 bilhão de litros, acumulando desde o início da safra queda de 13%, ou de 1,2 bilhão de litros. Já a demanda não tem sofrido redução tão significativa. Na primeira metade de julho, o volume vendido pelo Centro-Sul caiu 7%, para 702 milhões de litros, mas no acumulado da safra as vendas ainda estão 2% maiores, superando 5 bilhões de litros.
A produção de açúcar também está em baixa, mas ainda não há relatos de muitos cancelamentos de contratos (washout). “Há negociações, mas não levam a cancelamentos. São situações ocasionais”, afirma Hernandes. Do início da safra até 16 de julho, a produção de açúcar diminuiu em 1,1 milhão de toneladas, ou 7%, para 15,2 milhões de toneladas.
Com menor oferta de matéria-prima, as usinas estão priorizando o etanol anidro, que está remunerando até mais que o açúcar, afirma Heise. Desde o início da safra, a produção do aditivo cresceu mais de 800 milhões de litros, ou 23%, para 4,3 bilhões de litros. As vendas do etanol anidro, por sua vez, estão quase 700 milhões de litros maiores, ou 32%, que no mesmo período da safra passada, alcançando 2,8 bilhões de litros.
Segundo Hernandes, os volumes adicionais de anidro nesta safra estão sendo entregues em parte dentro dos contratos com as distribuidoras, que flexibilizam até 10% dos volumes acordados, e em parte no mercado físico (spot), que está representando em torno de 12% das vendas. Ele não descarta um aumento nessa participação na entressafra caso aumente a demanda até lá.
Fonte - Valor Econômico