Tempo seco afeta safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul
A frente fria que avançou sobre o Centro-Sul no início de julho, provocando algumas chuvas, não deve alterar muito o cenário de escassez hídrica que as lavouras de cana-de-açúcar vinham enfrentando nos últimos meses. Com baixa umidade no solo e sem perspectivas de aumento das chuvas nos próximos meses, produtores e analistas já preveem uma quebra de safra no terço final da colheita, a partir de meados de setembro, além de aumento de risco de incêndios.
Em boa parte do interior paulista, de Minas Gerais, de Goiás e de Mato Grosso do Sul, praticamente não houve chuvas relevantes para a cultura desde abril. Na região de Franca (SP), por exemplo, não caiu um milímetro em junho, sendo que a média do mês é de 25 milímetros, segundo a FieldPRO. O inverno já costuma ser um período seco, mas neste ano as chuvas estão abaixo da média, afirma o diretor de clima da companhia, Willians Bini.
“A seca está preocupante para a lavoura. Muito provavelmente o terceiro terço da safra vai ter quebra. No ano passado, a chuva [nesta época] foi acima do normal”, relata o presidente da usina São Manoel, Carlos Dinucci. “A cana está bem seca. Não tem como crescer desse jeito”.
A falta de umidade nos últimos meses fez com que os entrenós da cana que será colhida no fim da safra ficassem muito próximos um do outro. Mesmo que ocorram chuvas, não deve haver alteração nessa característica, afirma.
Na região de Ribeirão Preto, a última chuva “relevante” foi no fim de março, conta o diretor comercial da usina Batatais, Luis Gustavo Diniz Junqueira. “Por enquanto, a cana está boa, mas no terço final de safra deve ter quebra”, diz. Ele observa que o teor de sacarose “está acima da média”. “Mas não deixa de ser outro sinal de seca”, completa.
Produtividade
A produtividade já começou a safra em baixa. De abril a maio, o rendimento estava 3,5% menor do que um ano antes – a base de comparação é elevada, já que a safra anterior (2023/24) foi beneficiada por um clima “ideal”.
Por ora, a moagem de 2024/25 está maior pela antecipação da colheita, mas a expectativa de boa parte dos analistas é de é que o volume processado no Centro-Sul fique cerca de 10% abaixo das 654 milhões de toneladas no último ciclo.
Para o professor da Esalq/USP Fabio Marin, que coordenado o Sistema Tempocampo, “talvez o fim da safra vá sentir os impactos da associação em maio e junho entre ausência de chuvas e temperaturas altas. Mas, considerando que o início da safra foi melhor que o esperado, devemos ficar [com uma produtividade] perto da média, talvez um pouco abaixo”.
Incêndios
Outro problema que ronda as usinas são os incêndios. Neste ano, o número de focos cresceu de forma significativa, já que a palhada deixada no solo após a colheita serve de combustível para o fogo, o que é potencializado pela seca.
Desde janeiro até 24 de junho, o número de focos de calor em São Paulo – não somente em áreas de cana – cresceu 2,7 vezes em relação ao mesmo período de 2024 e alcançou 1.246 ocorrências, conforme a Operação Sem Fogo do governo de São Paulo. Foi o segundo maior número desde 2010.
Dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam que o número de focos em São Paulo de 1 de junho a 11 de julho foi 187% maior do que no mesmo período do ano passado. No Paraná, a alta foi de 25%, e em Minas Gerais, de 48%. Em Mato Grosso do Sul, o número de focos explodiu, crescendo oito vezes no período.
“Como tivemos maio excepcionalmente mais seco, isso está se refletindo em junho e início de julho”, afirma Carolina Matos, especialista ambiental da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da secretaria de agricultura de São Paulo.
Os registros em São Paulo já superam os de 2020, quando uma onda de incêndios tomou conta de vários canaviais. Mas agora há uma diferença. “São focos menores e, com apoio do setor e dos bombeiros, temos debelado os focos antes de ganharem maior proporção”, relata.
Camila Souza Ramos - NovaCana
Imagem - RPANews