TEREZA CRISTINA: AGRO ESTÁ PREPARADO PARA INVESTIMENTO 'VERDE' DO EXTERIOR
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou hoje que o agronegócio brasileiro está preparado para receber investimentos estrangeiros com foco em projetos verdes ou sustentáveis. Segundo ela, existem trilhões de dólares disponíveis ao redor do mundo para aplicação nessas atividades e o setor produtivo brasileiro tem a resposta para isso.
A demanda anual de financiamento para giro da produção agropecuária nacional é de US$ 100 bilhões. A afirmação foi feita durante o Fórum de Investimentos Brasil 2021.
"Sabemos e concordamos que a sustentabilidade passou a ser pré-requisito de acesso às finanças internacionais. [...] Por isso, temos que desburocratizar o ingresso de recursos externos no país e acertar aspectos tributários para não atrapalhar o trânsito de recursos internacionais", afirmou.
Ela comentou a aprovação da Lei do Agro, que torna as operações financeiras mais simples, e afirmou que o setor evoluiu com a assinatura de um memorando de entendimento com a Climate Bonds Initiative (CBI) com os objetivos do Plano de Investimento para a Agropecuária Sustentável Brasileira.
"Nosso mercado bancário e de capitais está maduro e pronto para receber investidores do mundo todo. E é por isso que trabalhamos na oferta de títulos verdes confiáveis aos investidores internacionais", salientou.
A ministra disse também que a agropecuária nacional será "parceira da preservação do meio ambiente" com a implementação do Plano ABC+, com ações sustentáveis para o período 2021-2030.
Incentivo a pequeno produtor
Tereza Cristina disse hoje que o desafio do governo é viabilizar o acesso dos pequenos produtores às boas práticas de produção e à inovação tecnológica. O objetivo, segundo ela, é atrelar cada vez mais as políticas públicas aos conceitos de ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança).
"O pequeno precisa da mão do governo, de políticas públicas que cheguem até ele", afirmou no Fórum de Investimentos Brasil 2021. Ela afirmou que tem trabalhado para diminuir o distanciamento entre os grandes e os pequenos produtores.
"Estamos diferenciando quem tem boas práticas de ESG daqueles que não para trazer todos para esse daqui [que usam]. Gostaríamos de fazer um Plano Safra mais verde, e ele será. Mas isso tem uma escala, para que a gente vá trazendo todos os produtores para chegar no patamar desejado", completou.
Segundo a ministra, é preciso "mudar a cultura" dos produtores rurais, assim como tem sido feito em outros setores. O trabalho é focado em garantir segurança alimentar com proteção ambiental.
"Temos grande oportunidade e estamos tentando fazer essa mudança de cultura", pontuou. "Mas os agricultores estão na vanguarda, nós é que estamos correndo atrás para trazer inovação, investimentos e infraestrutura para o setor", disse.
Segundo a ministra, a redução da mistura do biodiesel ao diesel fóssil, de 13% para 10%, é uma medida pontual e que não representa um recuo no incentivo às práticas sustentáveis no campo brasileiro. Ela ponderou que o corte no percentual "não era desejado", mas que foi necessário. A previsão é que a mistura retorne aos patamares normais no próximo leilão.
Melhora da conectividade no campo é essencial
No evento, a ministra disse que é imprescindível melhorar a conectividade no campo, e citou iniciativas lançadas recentemente para expansão da rede 4G nas áreas rurais, a instalação da rede 5G, além de pontos de internet via satélite e fibra ótica.
"Essa infraestrutura vai permitir que o setor agrícola brasileiro entre na nova era de inteligência artificial. E assim poderemos introduzir no campo inovações extraordinárias como: aprendizado de máquinas, gêmeos digitais, computação holográfica, realidade aumentada, computação em nuvem, big data, internet das coisas e assim por diante", afirmou.
Tereza Cristina disse que a inovação no campo tem sido incentivada. Hoje, o país possui 20 polos de incentivo à inovação e mais de duas mil startups do agronegócio. Os investimentos nessa área, segundo ela, foram da ordem de US$ 200 milhões em 2019.
"Deveremos crescer muito ainda nos próximos anos nesse setor", afirmou. "O Brasil entra na era da agregação e captura de valor, priorizando tendências inovadoras no mundo como alimentos proteicos de base vegetal, carnes de laboratório, agricultura vertical, tecnologias de fermentação, entre todas que possamos descobrir", completou a ministra.
O painel discute os três "is" da agricultura: infraestrutura, inovação e investimentos verdes.
Logística mais eficiente
Segundo ela, o país precisa de logística mais eficiente para permitir o crescimento da produção e do desenvolvimento do agronegócio. Segundo ela, o governo tem trabalhado para para melhorar a infraestrutura que atenda ao setor, mas existem oportunidades de investimentos estrangeiros nessa área no Brasil. O painel discute os três "is" da agricultura: infraestrutura, inovação e investimentos verdes.
Ela citou, por exemplo, o edital de concessão rodoviária da BR 163, importante eixo de escoamento da produção agrícola. O leilão está marcado para o mês que vem. "Nosso desafio vem do próprio sucesso brasileiro. Precisamos de logística mais eficiente porque o agro cresce, se desenvolve. O transporte de insumos da indústria para o campo, assim como o escoamento da produção da fazenda até o porto elevam os custos de nossos produtos", disse durante o Fórum.
A ministra também citou oportunidades no setor hidroviário, com o programa de incentivo à cabotagem, o projeto chamado de "BR do Mar" e nas ferrovias. "O governo federal trabalha com a meta de dobrar, em oito anos, a participação do transporte de cargas nesse modal. A Ferrovia Norte-Sul tem conclusão estimada para julho deste ano. Vai representar importante eixo de movimentação de cargas a partir do Centro-Oeste, permitindo ainda conexões com a Ferrogrão e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO)", disse a ministra.
Por Rafael Walendorff
Fonte - Valor Econômico