Do etanol à solar, petroleiras travam corrida por energias renováveis no Brasil
A recente aquisição da Rio Energy pela Equinor sela a entrada da petroleira norueguesa no mercado eólico brasileiro.
O negócio está longe de ser um investimento isolado. De olho na transição energética e nos compromissos net zero, as petroleiras europeias deixaram de ser figuras presentes apenas nos leilões de petróleo no Brasil e decidiram fincar o pé, nos últimos anos, no mercado de renováveis no país: a BP foca em bioenergia e solar; Equinor, Galp e TotalEnergies atuam em solar e eólicas; e Shell está presente em bioenergia e mira solar, eólica offshore e hidrogênio verde.
O Brasil vem se tornando peça-chave dentro dos esforços de descarbonização da indústria petrolífera, que tem montado, aos poucos, sua carteira de projetos no Brasil: energia solar, biocombustíveis, eólicas – incluindo offshore – e hidrogênio verde estão no radar.
Europeias tomam dianteira
A investida se dá em meio à pressão de investidores por uma agenda ESG (responsabilidade ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), mas é também um reposicionamento estratégico: a diversificação dos negócios acontece diante das perspectivas de declínio do consumo de petróleo – a ser puxado, sobretudo, pela retração do uso de combustíveis fósseis no transporte.
E, embora algumas empresas deem sinais de desaceleração dos planos de transição energética, a investida das petroleiras no mercado brasileiro de renováveis é uma tendência inequívoca.
No caso das eólicas offshore, as companhias aguardam avanços na regulamentação, mas correm para licenciar seus projetos em alguns pontos estratégicos, como o litoral do Sudeste.
As europeias tomaram a dianteira, inclusive, da Petrobras. Nas gestões passadas, a estatal brasileira apostou em soluções de descarbonização dentro da própria indústria de óleo e gás, sem um olhar mais focado em renováveis.
Crítica do caminho tomado nos últimos anos pela estatal brasileira, a atual administração de Jean Paul Prates está mudando sua rota e tem buscado se aproximar justamente de algumas das grandes petroleiras globais para também fincar o pé nas energias limpas.
Em junho, o diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, afirmou que a companhia já possui diversos acordos de confidencialidade (NDAs) e memorandos de entendimento (MOUs) assinados com empresas para desenvolvimento de projetos de renováveis, dentre os quais:
- Memorando com a Equinor para estudo de investimentos conjuntos em até sete projetos de geração eólica offshore, num total de 14,5 GW.
- Acordo com a Shell, para exploração e produção de óleo e gás, mas também renováveis e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).
- Projetos com a BP em exploração e produção, bioenergia e hidrogênio.
Parcerias estratégicas
Ainda sem uma expertise desenvolvida na área de renováveis, as petroleiras focam em parcerias estratégicas em seus planos de diversificação.
Assim foi com a BP, que formou uma joint venture com a Bunge em etanol e com a Lightsource para investimentos em solar. Já a TotalEnergies se aliou à Casa dos Ventos, enquanto a Shell avalia investimento conjunto com a Eletrobras em eólicas offshore.
Outro caminho tem sido as aquisições de empresas locais de mercados selecionados, aproveitando as equipes técnicas e o portfólio de projetos.
Foi a opção escolhida pela Equinor nas eólicas, com a compra da Rio Energy, mas não só: a Galp comprou uma carteira robusta de projetos de eólicas e solar da SER Energia e Casa dos Ventos; e a Shell comprou a Carbonext, com foco no mercado de créditos de carbono.
André Ramalho
Via Nova Cana