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[Opinião] Safra 2023/24 é um teste de stress para o setor sucroenergético

As últimas três safras de cana-de-açúcar foram de resultados econômicos muito bons. Todos os custos foram cobertos, incluindo os juros sobre o capital próprio, graças a preços altos do açúcar e do petróleo.

Como consequência, o setor está capitalizado e estão acontecendo investimentos na renovação da lavoura, em tratos culturais adequados e na otimização das operações industriais. Investimentos em aumento de capacidade também ocorrem, preferencialmente voltados para o açúcar.

Até agora tudo correu bem. Porém, quem atua no setor de commodities sabe que existe um ciclo de preços altos e baixos. Esta condição faz o negócio se viabilizar no médio e longo prazo com preços acima de custos.

Açúcar: o preferido

O preço do açúcar no mercado internacional, neste início de safra 2023/24, está acima do teto de preços dos últimos dez anos. Este teto ocorreu na safra 2016/17, quando se iniciou a tendência de queda de preços que durou dois anos. Estamos admitindo para esta consideração, além do preço do produto em dólares, o valor do dólar perante outras moedas e a inflação americana.

Mas será que esta situação voltará a ocorrer com a normalização das condições de oferta e demanda mundiais? E se acontecer? Qual será o resultado econômico desta safra atual 2023/24?

Se ocorrer em 2023 o que ocorreu em 2016, podemos esperar uma queda de preços, após o máximo do ano, de 700 pontos (ou 7 centavos de dólar por libra-peso). Sendo 25,80 centavos de dólar por libra-peso o preço máximo mensal de 2023, podemos esperar um mínimo em torno de 19 centavos de dólar por libra-peso.

Neste cenário de stress, o resultado econômico do açúcar na safra 2023/24 é ainda bastante satisfatório. Esta condição é explicada pelos preços altos que o açúcar alcançou no mercado externo e pelo real desvalorizado, o que permitiu cobrir com folga os custos.

Etanol: produzir o mínimo possível

No caso do etanol a história é outra. Possivelmente, o resultado econômico do negócio de etanol será deficitário na safra atual 2023/24. As razões para esta conclusão podem ser resumidas em três.

Em primeiro lugar, o preço do petróleo está em queda. Até abril de 2023, início da safra atual, o preço do petróleo WTI oscilava em torno de US$ 80 por barril. Atualmente, ele oscila em torno de US$ 70 por barril. Isto é baixista para os preços da gasolina e do etanol nas bombas.

Além disso, a taxa de câmbio vem caindo, o que deprime os preços em reais.

E, finalmente, o governo Lula tem estabelecido como objetivo de preços da gasolina sua estabilidade na bomba, protegendo o orçamento do consumidor. Como a carga tributária da gasolina e do etanol aumentou, o preço líquido do produtor diminuiu.

Conclusão

Conforme comentado anteriormente, o açúcar deve contribuir para um bom resultado econômico do negócio. E o etanol, não.

Levando em conta o mix da produção das usinas, onde cerca de 50% da cana é destinada à produção de açúcar, podemos admitir que o resultado econômico desta safra será positivo para as usinas pelo quarto ano seguido.

* Julio Maria M. Borges é sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento, via Nova Cana

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