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Chegada do El Niño põe setor de cana-de-açúcar em alerta

A safra 2023/24 de cana-de açúcar teve um início promissor no Centro-Sul do Brasil, com canaviais beneficiados pelas chuvas do último verão e recuperação na moagem. Mas a chegada do El Niño colocou todo o mercado em alerta, já que o fenômeno representa um risco para a colheita.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) anunciou que o clima já está sob efeito do El Niño, com 84% de chance de um evento de intensidade moderada. Porém, os especialistas norte-americanos também consideram a possibilidade de 56% de que o fenômeno pode se tornar forte.

A meteorologista do Climatempo, Nadiara Pereira, disse que o El Niño tem a característica de intensificar os sistemas meteorológicos, com ampliação das chuvas no Sul do Brasil.

“A tendência é que essa condição mais chuvosa também se estenda para algumas áreas entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, algumas das principais áreas produtoras de cana-de-açúcar do Centro-Sul. No início da primavera, isso deve impactar o período final de corte e moagem”, afirmou ela.

Desta forma, as usinas do maior polo produtor de cana do país podem ter um encurtamento do período considerado ideal para a colheita. “Essa é a grande preocupação do setor, já que esse ano tem muita cana para ser colhida”, comentou.

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Pereira lembra que o setor produziu “muito bem”, beneficiado por chuvas regulares no verão, o que fez com que os canaviais ficassem cheios para a safra atual. “Tem muita cana para colher e agora podemos ter excesso de umidade por conta do fenômeno El Niño”, enfatizou.

No acumulado da safra 2023/24, iniciada em abril, a moagem de cana do Centro-Sul atingiu 125,38 milhões de toneladas, um avanço de 16,76% ante igual período da temporada passada, conforme dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) divulgados nesta terça-feira. O avanço veio na esteira de uma base comparativa mais baixa, visto que o ciclo anterior teve condições climáticas desfavoráveis.

A Unica destacou que, se for realizada uma comparação mais criteriosa, considerando a safra 2020/21 como referência – o último ciclo em que a moagem de cana superou 600 milhões de toneladas –, a variação seria negativa em 13,81% ou, de forma absoluta, em 20,09 milhões de toneladas.

“Se a expectativa de superar a marca de 600 milhões vier a se concretizar, é necessário que tal defasagem seja compensada, seja por um bom ritmo de colheita nos meses mais secos – o que tem sido colocado em xeque pelo advento do El Niño – seja por um prolongamento da safra que adentrará o mês de dezembro de 2023, ou antecipará o início do ciclo seguinte para março de 2024”, alertou a entidade que representa as usinas.

O mercado, em geral, nutria a expectativa de uma moagem de 600 milhões de toneladas para esta temporada, amparado pelo tamanho dos canaviais e pelo alto patamar de produtividade, que beirou níveis recordes em maio, disse o analista de inteligência de mercado de açúcar e etanol da StoneX, Marcelo Filho.

Mas é a intensidade do El Niño que deve ditar o desempenho da safra. “Estamos vendo um começo de safra excelente, com usinas produzindo o máximo de açúcar que podem porque é o que o mercado está pagando melhor, mas o setor está preocupado: se o El Niño vier muito forte – e as probabilidades disto estão aumentando – o impacto seria maior”, acrescentou o analista.

Atualmente, a StoneX prevê uma moagem de 595,9 milhões de toneladas para o Centro-Sul na safra 2023/24, um incremento de 8,7% em relação ao ciclo anterior. Este avanço permitiria uma elevação de 10,2% na produção de açúcar, para 37,2 milhões de toneladas.

O analista afirmou que estes números serão revisados em julho e que ainda não é possível precisar se o viés é altista ou baixista, pois dependerá o desempenho climático ao longo do mês.

“Esses próximos dias vão ser determinantes para o curto prazo; para o médio prazo, é o El Niño como um todo, se vai se manter forte e se essas chuvas vão chegar antes do esperado”, disse ele, citando que o pico da safra começou em junho e deve se estender até agosto e que o clima deste período também será fundamental.

Marcelo Filho destacou também que o mercado global de açúcar precisa do Brasil, pois o fenômeno climático é ainda mais severo em concorrentes importantes, como Índia e Tailândia, que já estão com suas chuvas de monções irregulares.

Por Nayara Figueiredo, via NovaCana

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