Embarque de etanol aliviou pressão na safra
Se o mercado interno de etanol gerou estresse entre as usinas nesta safra, a demanda internacional revelou-se uma importante boia de salvação para quem conseguiu aproveitar oportunidade no mercado externo.
O volume de etanol exportado desde o início da safra 2022/23 (em abril) no Centro-Sul até janeiro já ultrapassa toda a exportação do ciclo passado em 34% e alcança 2,4 bilhões de litros. Na safra 2020/21, o volume total embarcado foi de 2,9 bilhões de litros, e o recorde foi em 2012/23, com 3,5 bilhões de litros embarcados.
Em valor, nunca houve uma safra tão rentável para se exportar etanol. Até janeiro, a receita com os embarques já chegou a R$ 8,9 bilhões, 59% a mais do que em toda a safra anterior.
Este desempenho está relacionado à maior demanda em diversos mercados, sobretudo da Europa, onde os consumidores saíram pelo mundo em busca de alternativas ao óleo russo, principalmente fontes renováveis. "O grande impacto foi da Europa por causa da crise energética", afirmou Plinio Nastari, presidente da Datagro.
O mercado americano, especialmente da Califórnia, que paga um prêmio ao etanol brasileiro pela menor pegada de carbono, também se mostrou mais aquecido, respondendo por quase metade dos embarques brasileiros.
Outro destino cada vez mais importante é a Coreia do Sul, que valoriza o etanol brasileiro para uso industrial. A Índia também surgiu como um novo destino para o etanol de uso industrial. "Como o governo indiano está incentivando a adoção de misturas de 20% do etanol na gasolina, eles deram isenção de imposto para importação de etanol de uso industrial", disse.
Em nove meses, a Raízen destinou metade de seu etanol anidro e com fins industriais para o exterior e abocanhou 30% do comércio global do produto. Tanto em um como em outro uso, a companhia captou prêmios relevantes em relação ao mercado doméstico. Seu preço médio de venda chegou a uma diferença de 37% ante o preço médio interno no último trimestre.
Na São Martinho o mercado externo representou 31% das vendas nesta safra, ante 13% no acumulado do ciclo passado. Neste quarto trimestre, a companhia pretende embarcar 79 milhões de litros de etanol a um preço médio de R$ 3.666 o metro cúbico - acima do valor médio executado em suas vendas totais até dezembro (R$ 3.484,20 o metro cúbico).
Camila Souza Ramos, Valor Econômico, via UDOP