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Artigo - Açúcar: mão fraca

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira como o contrato para vencimento março/23 cotado a 20.05 centavos de dólar por libra-peso, uma apreciação de 41 pontos em relação ao fechamento da semana passada. Os vencimentos que compõem a safra 23/24 do Centro-Sul fecharam todos em território positivo. O real também encerrou a semana com queda de menos de 1% frente ao dólar: R$ 5,3750

Nos últimos 30 dias, o açúcar em NY negociou a mínima de 17.55 centavos de dólar por libra-peso (há 3 semanas) e a máxima de 20.48 centavos de dólar por libra-peso (na última quarta-feira). Uma oscilação de 293 pontos em apenas 14 sessões.  Isso equivale a uma variação de quase 65 dólares por tonelada, melhorando os preços do açúcar para a exportação em torno de 300-340 reais por tonelada. As usinas foram rápidas e não dormiram no ponto, nem acreditam em Papai Noel, fizeram a lição de casa e tudo indica que as fixações aumentaram razoavelmente nos últimos 10 dias. [Ainda não apuramos o volume, mas acreditamos que deve estar beirando os 55-60% de fixações para a safra 23/24].

Note-se que a última vez que vimos uma variação dessa magnitude (293 pontos) em apenas 14 dias e dentro do mesmo contrato foi em 23 de fevereiro de 2021 (máxima de 18.94 e mínima de 15.82). Depois de alcançar o preço máximo, o mercado colapsou. Com o intuito de comparação, nas últimas 1.000 sessões do açúcar em NY, a média de variação no período de 14 dias foi de 140 pontos.

O que pode manter o mercado acima de 20 centavos de dólar por libra-peso, embora não acreditemos nessa possibilidade tendo em vista o cenário fundamentalista que se opõe a essa ideia, é se houver uma desvalorização do real frente à moeda americana combinada com uma subida dos preços do petróleo no mercado internacional, o que faria com que a arbitragem do etanol com o açúcar se estreitasse. Hoje, o hidratado negocia a descontos em relação à tela do açúcar em NY, ainda mais com o prêmio que tem sido negociado no físico (embarque para dezembro tem vendedor a H+90, mas sem comprador) apesar do line-up no porto de Santos ter reduzido.

O mercado tem estado mais firme em consequência da Índia, pelo menos essa é uma narrativa interessante. O que precisa ser analisado é se o default alardeado de 400,000 toneladas seria suficiente para dar suporte a tamanha elevação nos preços. Nossa visão é que – definitivamente – não!

O açúcar objeto desse default, que alguns duvidam que chegue a esse volume, não vai deixar de atingir o mercado de exportação. Então, falta consistência nessa narrativa. Ah, então é o line-up, apregoam alguns. Qualquer livro de commodities ensina que estrangulamento na logística faz com que o basis se fortaleça. E foi o que ocorreu, mas não mais. Os prêmios pagos para açúcar para embarque imediato diminuíram.

A verdade irrefutável é que por trás dessa estrondosa subida de quase 300 pontos estão os fundos cuja posição comprada segundo o relatório do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, já passa dos 131,000 lotes, um acréscimo de 87,000 lotes na semana. Os fundos estão long o equivalente a 6.6 milhões de toneladas de açúcar. Explicado.

São os fundos que estão dando esse gás todo no mercado de açúcar e acho difícil que NY consiga aguentar permanecer nesse nível, pois as usinas estão aproveitando os bons preços e fixando, a Índia certamente vai aproveitar também, pois a paridade da exportação está em 18.67 centavos de dólar por libra-peso e o prêmio logístico estimula a aceleração das exportações daquele país.

Na nossa visão, os fundos são a mão fraca do mercado. Vão precisar de muita sorte e bolso fundo para manter os preços nesses níveis. Vão ter que contar com mudanças significativas nos fundamentos que trariam uma alteração na percepção de risco dos participantes: por exemplo, falta de chuva nos canaviais, atraso no início da moagem da próxima safra, previsão de safra de cana menor do que o esperado, entre outros motivos.

Os fundos ainda têm mais de dois meses para manter essa narrativa [artificialmente] altista que tem tudo para ser desmantelada pela força dos fundamentos. Enquanto isso, não podemos nos esquecer de como anda o mundo nesse momento. Inflação alta corroendo o poder de compra das famílias, juros ascendentes coibindo a formação de estoques e ávidos exportadores que continuarão aproveitando os preços remuneradores fixando seus contratos em NY.

Soando como um disco quebrado, o que pode dar mais combustível ao mercado futuro de açúcar é uma eventual disrupção logística (que afetaria o basis, primeiramente) no açúcar, o mercado de petróleo negociando acima dos 95 dólares por barril, o real se desvalorizando fortemente frente à moeda americana (principalmente se o presidente eleito continuar com suas parlapatices) e se a Petrobras mantiver sua política de paridade com o preço internacional.

Como se vê, os fundos vão precisar de uma generosa dose de boa vontade por parte do acaso.

Por Arnaldo Luiz Corrêa,  diretor da Archer Consulting via RPA News

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