Agro diversifica fontes de financiamento à produção
O agronegócio brasileiro, com um faturamento de R$ 2,5 trilhões ao ano, vem expandindo incessantemente seus investimentos na produção, sobretudo em tecnologias e práticas sustentáveis de cultivo.
A crescente demanda mundial por alimentos exige um salto de eficiência na geração de produtos agrícolas do Brasil, hoje exportados para 200 mercados ao redor do mundo.
Para fazer frente a este desafio, os produtores brasileiros diversificam suas fontes de financiamento, indo além dos créditos bancários e buscando recursos no mercado de capitais.
Para Marcos Montes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o agronegócio brasileiro já não “cabe mais no crédito rural” concedido apenas pelo governo. O titular do Mapa abordou o tema em reunião nesta segunda-feira, 24/10, do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (COSAG/Fiesp), presidido por Jacyr Costa Filho.
“No Plano Safra 2022/2023, destinaremos R$340 bilhões à agricultura, especialmente àquela de porte familiar. Em complemento a este volume, o governo tem trabalhado exaustivamente para proporcionar um ambiente de negócios mais atrativo. Além dos financiamentos bancários, o mercado de capitais é outra modalidade que vem se tornando uma alternativa viável”, afirma o ministro.
Além de Montes, o encontro no COSAG teve como palestrantes José Angelo Mazzillo Junior, secretário Adjunto de Política Agrícola do Mapa, Bruno de Freitas Gomes, superintendente de Supervisão de Securitização da Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (SSE/CVM) e Nathalie Vidual, gerente de Supervisão de Securitização do órgão.
Jacyr Costa destaca que os financiamentos privados no agro têm crescido principalmente a partir da primeira alteração na Lei do Agro, em 2019. Desde então, facilitou-se o acesso por qualquer instituição financeira a dados dos produtores registrados no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor).
Segundo o executivo, também sócio da Consultoria Agroadvice, isso fez aumentar o uso da Cédula de Produto Rural (CPR), título que representa uma promessa de entrega futura de um produto agropecuário e funciona, assim, como facilitador na produção e comercialização rural.
“Os estoques de CPR Registrada de agosto de 2020 a agosto de 2022 saltaram de R$ 17 bilhões para R$ 178 bilhões, um crescimento de 950%. Com isso, os títulos de investimento do agro, como um todo, tiveram saltos alavancados: 230% no caso da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA); 170% no Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e 111% no Certificado de Recebimento do Agronegócio (CRA)”, ressalta Costa.
José Angelo Mazzillo lembra que, a partir de 2021, o Mapa promoveu a modernização do CPR. “Expandimos o escopo do instrumento para todas as atividades do agro, incluindo proteção de florestas nativas, extrativismo, produção e comercialização de insumos. No total, o financiamento pela CPR engloba mais de 191 produtos agropecuários”, enfatiza.
O representante do Mapa também destaca o papel do Fundo de investimentos Cadeias Produtivas Agroindústrias (Fiagro), lançado no ano passado: “Hoje, 38 Fiagros estão operando e mais 19 vêm sendo planejados ”.
Mercado de Capitais
Com demandas alimentares quantitativas e qualitativas crescentes em relação à produção agrícola do Brasil, o agronegócio fatalmente precisará do mercado de capitais para a busca de recursos no longo prazo. Hoje, embora esta relação ainda seja tímida no Brasil, a expectativa da CVM é de que o cenário irá mudar radicalmente para melhor na próxima década.
Bruno Gomes, superintendente da CVM, observa que a história do agronegócio em captação de recursos é muito recente. “Temos trilhões investidos no mercado de capitais e apenas alguns bilhões investidos no agro. A indústria imobiliária, por exemplo, está habituada a estas transações há 30 anos. Já o agro, especificamente a partir da regulamentação do CRA, em 2016, acumula somente seis anos de experiência nesta área de financiamento”.
Nathalie Vidual, gerente da CVM, conclui informando que de 2016 até 2020, a média de CRA ofertada era de R$ 12,2 bilhões ao ano. “Em 2022 a emissão destes certificados já atingiu R$32,8 bilhões/ano”, pontua.
Por Andréia Vital, vital Jornal Cana