Balanços das usinas deverão mostrar que a operação com açúcar funcionou contra queda do etanol
As condições do adoçante neste último período poderão ser um contrapeso. No entanto, ainda que não esteja oficialmente claro como as companhias aumentaram a produção e como fixaram os preços de exportações, não deverá haver surpresas negativas para um cenário que já se desenhava desde maio para o biocombustível.
“O ritmo de comercialização vai ditar o andamento [de julho a setembro], mas, em geral, para aquelas que ainda ficaram mais dependentes do etanol, deverá haver perdas se não souberam aproveitar o mix mais açucareiro e a valorização da commodity”, analisa o consultor Alexandre Figliolino, diretor da MBAgro, com o complemento de que é muito pouco provável que essa virada não tenha acontecido, ainda que em níveis diferentes.
Cosan (CSAN3) é a única que trabalha com ano civil, daí que seu balanço será o do 3T22, em 11 de novembro, enquanto sua controlada Raízen (RAIZ4), junto com a Shell, divulgará o 1T23 (ano-safra 22/23) um dia antes. São Martinho (SMTO3) e Jalles Machado (JAll3) também demonstram por ano-safra, respectivamente dias 7 e 10.
A vantagem dessas sucroenergéticas listadas na B3 (B3SA3) é que contam com plantas modernas, podendo muito bem ter se adaptado a uma condição menos favorável ao biocombustível pela menor competitividade da gasolina, a partir de queda do ICMS para os estados e dos impostos federais, vis-à-vis os reajustes negativos da gasolina pela Petrobras (PETR4).
A Cosan/Raízen talvez menos que as demais por possuir um parque industrial com mais unidades, nem todas de última geração, que, embora mais tradicionalmente mais açucareiro, foi mais etanoleiro (53%), como lembra o especialista do setor.
Somado ao grande poder em volume do grupo.
Operacional forte
Para Figliolino, ex-diretor de Agronegócio do Itaú BBA, a gestão operacional de todas as companhias não costuma decepcionar, de modo que não se espera surpresas negativas.
Nos balanços de abril a junho, os Ebitdas de todas demonstram resultados operacionais fortes – tanto na comparação anual quanto contra a etapas imediatamente anteriores.
O da Cosan, por exemplo, cresceu 34,5%, e absorveu a forte queda do lucro líquido ajustado, em 94,6%, por despesas financeiras. Foram destaques os volumes comercializados e, com rentabilidade superior, da Raízen.
A São Martinho informou que o nível de fixações de preço do açúcar para a safra 22/23 e 23/24. Em 30 de junho, estavam, respectivamente, em 604 mil toneladas, a preço de R$ 2.261 a tonelada, e 165 mil/t a R$ 2.374/t. “Acima da média do mercado”, afirma Figliolino.
A compensação para o açúcar no 2T23 está de certa forma demonstrada, ao contrário do trimestre anterior – na comparação com igual do 1T22 -, quando a receita líquida com o adoçante foi 18,% inferior, refletindo a menor comercialização em 28,5%, período no qual o foco foi o etanol.
Para os lados da Jalles Machado, que ainda não deverá apresentar no balanço os resultados operacionais da incorporação da Usina Santa Vitória, cujo “closing” se deu há algumas semanas, a companhia goiana já lembrava dos “desafios” que o etanol apresentaria, assim que lançou seu demonstrativo de início da safra 22/23.
Os dados de abril a junho mostraram que as duas unidades, então, da Jalles ganharam share com etanol anidro, em mais 348%, e, em açúcar, 2,9%, absorvendo a baixa de 39,7% no biocombustível hidratado.
Com o adicional que no período o açúcar orgânico, ponto forte do grupo por absorver prêmios, voltou a ser escalonado nas exportações, com força ainda mais destinada de julho em diante.
“Dessa forma, temos a opção estratégica de limitar a venda de etanol até 31 de dezembro, quando se encerra a medida emergencial de isenção de impostos federais”, avisou em seu relatório, ao estampar R$ 120 milhões de resultado líquido no 1T23, alta de 3,8% (36,7% considerando o lucro líquido caixa) ante o mesmo trimestre da safra passada.
Por Money Times, via Cana Online