Transição energética tem de pensar em preço, defende IBP
Todas as propostas para incluir alternativas de novas fontes de energia na matriz têm que levar em consideração a questão dos preços no contexto da transição para uma economia de baixo carbono, defendeu o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Roberto Ardenghy.
Para o executivo, a transição energética vai ter que ocorrer aos poucos, para não gerar pobreza energética. “Na medida em que há tecnologias mais renováveis, importantes no conceito de transição, se encarece também a energia”, disse em evento promovido pela SHV Energy e Supergasbras sobre combustíveis sustentáveis na manhã de ontem, no Rio.
Nesse sentido, citou o exemplo do gás liquefeito de petróleo (GLP), o “gás de cozinha”, que não é renovável e chega a 90% dos lares brasileiros. “Há uma sensibilidade gigantesca, inclusive política, em relação aos preços do GLP”, afirmou. Segundo Ardenghy, as discussões sobre a transição para uma economia de baixo carbono também precisam passar pelos hábitos de consumo. “Infelizmente, ficamos muito viciados nessa energia extremamente barata e acessível, que está disponível o tempo todo. Isso fez com que se desenvolvessem hábitos de consumo incompatíveis com o futuro da humanidade”, disse.
O presidente do IBP acredita que os hidrocarbonetos ainda terão um papel importante no processo de descarbonização e ressaltou a necessidade também do aumento da eficiência no uso da energia. Nesse contexto, ele lembrou que o Brasil pode ter novas oportunidades, com o processo de abertura do mercado de refino, devido à venda das refinarias da Petrobras.
“Esse parque [de refino] vai ser muito mais valorizado se pensarmos no biorrefino, no refino de segunda geração, no qual se coloca não apenas petróleo dentro da refinaria, mas também resíduos vegetais, biomassa, e se produz, por exemplo, ‘bioGLP’ ou o ‘SAF’ [combustível sustentável de aviação] usando o parque existente.”
O diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Daniel Maia disse que a agência tem buscado avançar na clareza das regulações para novas fontes, como o SAF, o bioGLP e o diesel verde, para que consiga viabilizar investimentos das empresas nesses setores. O bioGLP é uma versão “renovável” do gás de cozinha, obtida por meio do tratamento do lixo, do bagaço de cana-de-açúcar e de óleo vegetal. “Do ponto de vista regulatório, a especificação do bioGLP, por exemplo, é bastante relevante, não apenas para viabilizar, mas também para atender ao consumidor com qualidade”, afirmou o diretor da autarquia.
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sérgio Bandeira de Melo, ainda é preciso avançar nas discussões regulatórias a respeito do bioGLP. “É preciso haver uma discussão sobre a certificação e rastreabilidade da molécula”, apontou.
Maia disse que a ANP tem um histórico de êxito em especificar qualidade para produtos e lembrou que hoje cerca de 98% dos combustíveis fiscalizados pela agência estão em conformidade com as regras. “Temos excelentes índices de conformidade”, disse.
A respeito do uso de combustíveis sustentáveis no setor de transporte, o vicepresidente da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), Gabriel Kropsch, disse que o grupo vê com bons olhos a criação de “corredores sustentáveis”, um programa do Ministério da Economia para uso do biogás em veículos pesados. O biogás é produzido a partir da biomassa e pode substituir o diesel, mais poluente. Segundo Kropsch, o programa deve avançar nas próximas semanas.
Por Valor Econômico, via Cana Online