GASOLINA DERRETE E EMPURRA O ETANOL LADEIRA ABAIXO
Agosto foi um mês decepcionante para as usinas. Não exatamente devido ao açúcar porque NY até que se comportou muito bem, pois acabou apreciando 35 pontos em relação ao fechamento do último dia útil de julho - quase 8 dólares por tonelada de valorização mensal - mas, foi o etanol decepcionou. Explico a seguir.
Além do açúcar, obtiveram resultados positivos durante o mês de agosto, o gás natural, que emplacou mais de 15% de aumento (que indiretamente provoca o fortalecimento do prêmio de branco, que explodiu), o milho com 12%, e grande parte das soft commodities e grãos.
O desmoronamento do mercado de gasolina, que caiu 20% no mês, estragou por completo o mercado de etanol internamente, jogando no ralo todo o planejamento que as usinas fizeram ao longo do ano de 2022, que prometia – como este escriba por tantas vezes discorreu sobre o assunto – ser o ano do etanol.
A falta de visão macro por parte do ministro da Economia Paulo Guedes e a busca insana do presidente pela reeleição ao custo que for, compõem o pano de fundo de um desconcertante e desfavorável ambiente de negócios. Deve ser o tal de "mais Brasil e menos Brasília" prometido pelo atual presidente e nós não entendemos direito.
O etanol derreteu mais de R$ 500 por metro cúbico em apenas um mês. O fluxo de caixa das usinas vai sentir o baque, mesmo contando com o ressarcimento esperado por parte do governo federal da parcela referente ao mês de agosto, que vem por crédito tributário. Ou seja, se a empresa tem muito crédito acumulado nos livros fiscais, até que ele vire dinheiro novamente (fluxo de caixa) vai implicar numa redução significativa na margem da usina. Isso afeta também novos investimentos por falta dos recursos esperados por conta de um orçamento que contemplava um mercado robusto para o etanol.
O imbróglio dos combustíveis desperta no potencial investidor externo a preocupação acerca dos riscos que é se investir na indústria no Brasil. As regras do jogo, os incentivos fiscais, a formação de preços do produto, todos esses componentes podem ir por água abaixo dependendo de disfunção cognitiva do ocupante do Executivo. Imagine uma indústria que se instalou no país contando com uma redução na alíquota de imposto que agora sumiu.
Um fator que está pressionando o etanol nesse momento é que a redução do preço da gasolina na refinaria converge quase que instantaneamente no posto de gasolina incentivando o posteiro (proprietário do posto de gasolina) a vender seu produto agressivamente, enquanto o hidratado vira um produto de segunda linha. Como a margem do posteiro é maior na gasolina ele segura o preço do hidratado na bomba e dá vazão à gasolina. E as vendas de hidratado despencam. O preço nominal ouvido na sexta-feira era de R$ 2,4000 por litro na usina, equivalente a 14.40 centavos de dólar por libra-peso, um desconto de 400 pontos em relação ao açúcar equivalente em NY.
A vantagem do etanol como combustível limpo e renovável pode desaparecer com a desoneração total dos impostos, abrindo espaço para a gasolina e colocando a sobrevivência ou expansão do setor em xeque. Quantos empregos são criados com a importação de combustíveis comparado com a produção de etanol no Brasil? Podemos entrar na discussão de que os mercados se ajustam e quem não tem competência não se estabelece. No entanto, por um momento imagine o setor de combustíveis sem o etanol. Como o Brasil faria para suprir um consumo estimado de 55 bilhões de litros de combustíveis (Ciclo Otto), mesmo contando com a expansão do etanol de milho.
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 18.14 centavos de dólar por libra-peso, uma queda em relação à semana passada de 33 pontos, ou pouco mais de 7 dólares por tonelada. Os meses seguinte ao longo da curva fecharam com altas menores. Pode ser uma indicação de que mais hedges de venda por parte das usinas estão surgindo para proteção do volume adicional de açúcar que elas estão produzindo em substituição ao etanol cuja remuneração é baixa.
Enquanto isso a B3 negocia etanol para o primeiro trimestre de 2023 abaixo de 15 centavos de dólar por libra-peso. Como dissemos aqui na semana passada, alguma coisa vai mudar nesse cenário.
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Fonte - Arnaldo Luiz Corrêa – diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda - via CanaOnline