USINAS BUSCAM ALTERNATIVAS PARA DRIBLAR PREÇOS DOS INSUMOS INDUSTRIAIS
A elevação do preço dos insumos provocada pela crise de abastecimento acende o sinal amarelo do setor bioenergético, que busca alternativas para minimizar o impacto nos índices de produtividade. Segundo estudo apresentado por Paulo Ramalho, diretor administrativo e de suprimentos da Usina Caeté, diante do risco de indisponibilidade, a escalada de preços do ácido sulfúrico, utilizado para o controle de bactérias, variou de R$ 0,70 a R$ 30,00 o quilo, entre março de 2020 e junho de 2021.
O que fazer para enfrentar essa situação foi a abordagem do primeiro Webinar Sinatub de 2022. Com o tema “Alternativas para a Crise no Abastecimento e Preços de Insumos Industriais”, o painel virtual realizado na quarta-feira, dia 4 de maio, além de Paulo Ramalho também contou com a participação de José Luiz de Moura, engenheiro químico na Usina Trapiche S/A e do professor Dr. Octavio A. Valsechi (Vico) da UFSCar/Bioenergy Hub.
Sob a condução do jornalista Alessandro Reis, o webinar contou com patrocínio das empresas AxiAgro e S-PAA Soteica.
De acordo com Ramalho, a crise no abastecimento do ácido sulfúrico remonta a março de 2020, quando iniciou a pandemia, considerando que o ácido sulfúrico tem como base principal o enxofre e seu maior produtor é a China.
LEIA MAIS > Bevap Bioenergia anuncia novo diretor comercial
Paulo Ramalho, diretor administrativo e de suprimentos da Usina Caeté
“A baixa oferta de enxofre gerou automaticamente escassez no fornecimento do ácido sulfúrico ou pela parada de algumas plantas que são os principais fabricantes. O risco da indisponibilidade no mercado gerou uma variação entre março de 2020 a junho de 2021 de R$70 centavos a R$30,00. Uma variação significativa que penalizou os caixas das empresas, tornando esse insumo num grande furo nos orçamentos”, disse.
Segundo Ramalho, com a parada das usinas em novembro/dezembro de 2021, naturalmente a demanda reduziu e os preços voltaram a cair, mas não aos preços iniciais lá de março de 2020. “Em fevereiro deste ano, os preços voltaram a subir de forma significativa, devendo permanecer assim até o meio do ano. O que o mercado enxerga em relação ao sulfúrico é que ele ainda mantém a tendência de redução de disponibilidade e isso consequentemente, gera o aumento nos preços do insumo”.
Paulo afirma que a melhor estratégia, é avaliar o melhor tempo de compra, geralmente na entressafra, e assim garantir o estoque necessário para evitar indisponibilidade e consequente prejuízo operacional. Ele também sugere um aumento na capacidade de armazenamento, avaliando o investimento em relação ao agravamento da crise de abastecimento.
Na Usina Trapiche, com sede em Pernambuco, a solução encontrada foi a substituição do ácido sulfúrico por antissépticos (biocidas e bactericidas) no controle das bactérias, explicou o engenheiro químico da usina, José Luiz de Moura.
LEIA MAIS > Grupo Viralcool estima moagem de 6,4 milhões de toneladas na safra 2022/23
José Luiz De Moura Engenheiro Químico na Usina Trapiche
“Inicialmente a fermentação era batelada alimentada. Em 1992 foi introduzida a fermentação contínua floculenta sem centrífuga. Em 2018 voltamos a utilizar centrífugas na fermentação contínua, com a finalidade de aumentar a capacidade fermentativa das dornas e possibilitar a secagem do excedente de fermento. O mosto atual que utilizamos é o melaço da fábrica de açúcar e a eficiência de fermentação é de 90 a 92%” explicou Moura.
Moura apresentou uma simulação de custo com dois tipos de tratamento na fermentação. Um sem a aplicação do ácido sulfúrico (A) e outro com sua utilização (B), para uma produção de 27.500 m3 de etanol. No tratamento A o custo ficou em R$ 641.444,23. No tratamento B, com o preço do ácido sulfúrico estimado em R$ 8,00, o custo passou a ser de R$1.855.700,00. De acordo com Moura, para empatar os custos dos tratamentos, o preço do ácido sulfúrico teria de ser de R$ 2,48.
Para o professor da UFSCar Octavio A. Valsechi (Vico), o importante é focar nos fatores que afetam a produção de açúcar e etanol. “A qualidade de matéria-prima é de fundamental importância, por ser a principal entrada de contaminantes da indústria”, ressaltou.
Segundo o professor, as atenções devem estar voltadas ao conhecimento da ação dos microorganismos, motivo pelo qual a existência de um laboratório é fundamental para direcionar os procedimentos a serem adotados.
LEIA MAIS > Brasil negocia compra de fertilizantes na Jordânia, Egito e Marrocos
Dr. Octavio A. Valsechi (Vico) da UFSCarBioenergy Hub
“Está se fazendo análise da bactéria? faz análise da levedura? O laboratório é uma ferramenta essencial na produção, para que se tenha resultados que me mostrem prontamente, o que está acontecendo no meu processo. Temos hoje, ferramentas que dão respostas extremamente rápidas para onde e como atuar, para que eu não tenha prejuízos maiores e também para evitar o uso indiscriminado desses insumos”, afirmou.
Valsechi ressalta que, para um bom gerenciamento é necessário ter informações confiáveis, geradas no laboratório que tem a condição de gerar informações confiáveis. “É necessário um sistema adequado de amostragem, métodos analíticos, equipamentos adequados e principalmente pessoal capacitado e treinado para fazer essas análises”, destaca.
“Identificar possíveis causas dos problemas, atuação rápida e eficiente sobre as causas dos problemas identificados, sempre usando os dados do laboratório e sempre buscando uma ação preventiva, com assepsia e verificando a qualidade de matéria-prima. Treinamento, conscientização e valorização da equipe de trabalho. A gente sempre bate nessa tecla. Vamos capacitar o indivíduo que é a peça fundamental em qualquer processo”, finaliza o professor.
FONTE: JORNALCANA