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RENOVADO PELA GUERRA, O DEBATE SOBRE SE O ETANOL CONQUISTA (NO DURO) A ‘INDEPENDÊNCIA’ E O CONSUMO

Com tudo, com tudo, o etanol alcança números significativos no mix de combustíveis brasileiros, mas longe de aplacar o bolso do consumidor frente a qualquer choque do petróleo que pudesse (ou possa) vir com a agressão russa na Ucrânia ou qualquer outra crise que apareça.

Seria mais importante ainda se as montadoras tivessem conseguido (não resistido, para alguns) aumentar a eficiência energética dos motores movidos a biocombustível – a despeito de sua menor octanagem -, e tendo eliminado, da conta feita pelo consumidor na hora de abastecer, a linha imaginária dos 70% de paridade com a gasolina. Isto pelo ângulo do hidratado.

Pelo lado do anidro, também a mistura à gasolina poderia ser bem maior que os 27% atuais, igualmente segundo vários estudos técnicos esquecidos pelo tempo.

A alavanca para ganhos de escalas com aumento da produção – se o consumo passasse bem da metade do consumo total de combustíveis dos carros -, seria muito melhor aproveitada e a arbitragem com o açúcar, nas cotações internacionais, poderia ter um peso menor nas decisões de oferta.

Até os defeitos do clima, como nas recentes subtrações de 80 milhões de toneladas de cana em duas safras, poderiam ser compensados pelo maio apoio comercial, na ponta, do renovável.

Nesse cenário ‘desconhecido’, a influência das decisões da Petrobras (PETR4) sobre os reajustes da gasolina certamente seria menos importante ao consumidor. Se hoje ele olha para o etanol somente de acordo com o preço do combustível de petróleo, passaria a olhar para a gasolina de acordo com o preço do etanol.

Na soma desses pontos, o etanol ainda não é ‘independente’.

Agora, a beira da aceleração da eletrificação automotiva, tudo isso já nem sequer é comentado mais. O capítulo é outro.

Entre o presente e a perspectiva, com o RenovaBio perpassando a cadeia, subtraindo mais de 718 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera até 2030 (contando com o biodiesel) , há o que se comemorar, segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.

A participação do etanol atualmente na balança de oferta e consumo de carburantes é de 48%, o que numa conta avançada feita por ele apresenta potencial para encontrar a meta prevista pelo RenovaBio de dobrar o volume até 2030.

Variáveis de maior produção

 

O cálculo de 45 a 50 bilhões de litros deverá ser alcançado, desde que com ganho em produtividade da cana, no “aumento da capacidade gradual” de indústrias que podem voltar a operar, mas, especialmente, pela expansão do etanol de milho, classifica o especialista, um dos mais respeitados do setor.

Mediante os saltos de produção e com os entrantes em projetos indo para o chão, Nastari vê com otimismo os mais de 13 bilhões de litros, até na virada da década, sobre os 3,5 bilhões/l de 2021. Se somados aos 35 ou 36 bilhões que é a capacidade atual do renovável de cana, aquele teto estará assegurado.

Na safra 21/22, a quebra da cana, a desvantagem para a gasolina e a arbitragem favorável às exportações de açúcar cortaram para 32 bilhões a oferta do Centro-Sul.

O consultor adiciona, para completar, a potencialidade do biometano para algo de 10% a 14% na oferta.

Como o líder da Datagro, muita gente do mercado aposta na eletrificação dos automóveis a célula de etanol ganhando a corrida dos elétricos convencionais, mas somente a efetivação desse processo de fato garantirá a consolidação do biocombustível como preferência na matriz energética nacional, na visão de Gonçalo Pereira, da Unicamp, outra voz muito ouvida no meio.

A exemplo da história do começo deste texto, do que poderia ser e não foi, o professor e pesquisador pensa que somente o consumo vai puxar a produção até que esta faça a diferença para mais consumidores brasileiros.

Consumo e CBio

 

Não adianta, segundo diz, haver oferta se não houver volume de demanda, caso contrário o mercado vai seguir dentro da baliza que o move atualmente. Mais açúcar contra menos etanol de cana, quando for vantajoso para o adoçante, e a produção do etanol de milho alavancada pelo consumo de DDG (subproduto para ração), como, inclusive, já foi objeto de reflexão indireta da Unem (entidade das destilarias) aqui em Money Times.

Além disso, o ganho do vetor de desenvolvimento do país, impulsionando a cadeia e os satélites da economia, é incalculável, acrescenta o coordenador do Laboratório de Genômica e bioEnergia da universidade.

Entre outras ponderações, voltando ao tema da produtividade na qual acredita o presidente da Datagro, vale destacar que há desafios não resolvidos pelo próprio RenovaBio, lembra o vice-presidente da Feplana e presidente da entidade estadual dos produtores de Pernambuco e da Usina Coaf, Alexandre Lima.

A menos que as usinas invistam em maior qualificação técnica na chamada cana própria, a matéria-prima dos fornecedores só ganhará mais eficiência produtiva, descontando-se a variável climática, se os ganhos das usinas com a monetização pelo Crédito de Descarbonização (CBio), chegarem integralmente aos fornecedores independentes, cerca de 60 mil no Brasil.

Hoje não está na lei esse repasse e se discute mudança no Congresso.

O exemplo disso, segundo o produtor pernambucano, vem da cooperativa Coaf. A primeira a repassar 100% dos CBios aos produtores, que, com o ganho adicional, em plena crise do consumo da pandemia, conseguiram investir e emplacar maior produtividade e alcançaram 12 milhões/t de matéria-prima na safra recém terminada.

E irão receber mais na próxima campanha. A ANP revisou para cima da nota de precificação da cana daquela região, Timbaúba, ao comprovar que, junto com a produtividade, a produção carregou menos insumos fósseis, que é a meta maior do programa nacional de biocombustíveis inaugurada em abril de 2020.

Desde então, o teto nacional foi de 14 milhões de CBios em negociação na B3 (B3SA3) para 36,2 milhões determinados em 2022.

Considerando que 1 título corresponde a 1 tonelada equivalente de CO2, é outra marca positiva que merece comemoração, avalia Nastari, da Datagro, para quem a safra 22/23, em curso no Centro-Sul, vai marcar entre 560 e 562 milhões/t de cana, em recuperação parcial.

 

Money Times - Por Giovanni Lorenzon

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