PETRÓLEO TURVA CENÁRIO DE AÇÚCAR E ETANOL
A forte queda do petróleo ocorrida ontem (15/03) nos mercados internacionais intensificou a volatilidade do mercado de energia e turvou o cenário para a produção de açúcar e etanol na próxima safra sucroalcooleira no Centro-Sul do Brasil (2022/23), que começa oficialmente em abril.
Nos últimos dias, tanto os preços do etanol anidro (adicionado à gasolina) quanto do hidratado (vendido nas bombas) passaram a oferecer às usinas remunerações para exportação, após um longo período em desvantagem. Isso indica, a princípio, que o etanol ganha capacidade de “competir” com o açúcar pela cana processada nas indústrias na nova safra, o que poderia favorecer um mix um pouco menos açucareiro do que na safra passada, segundo analistas.
Na segunda-feira, ainda antes da forte queda de ontem do petróleo, o hidratado era vendido por uma usina típica em Ribeirão Preto por valor equivalente ao preço do açúcar em 19,88 centavos de dólar a libra-peso, enquanto o anidro era vendido pelo equivalente a 19,86 centavos de dólar a libra-peso, segundo a consultoria Datagro.
Em ambos os casos, os biocombustíveis estavam apenas um pouco abaixo do valor de exportação do açúcar de uma usina da região, posto no porto de Santos (FOB), com prêmio de polarização: 19,93 centavos de dólar a libra-peso. Ontem, o açúcar caiu um pouco mais na bolsa de Nova York - os contratos para maio fecharam a 18,73 centavos de dólar a libra-peso.
O preço do etanol passou a subir na quinta-feira passada, quando a Petrobras decidiu repassar parte das elevadas cotações do petróleo para os preços domésticos da gasolina. Desde então, os preços do etanol subiram em todas as praças do país. Em Paulínia (SP), o indicador diário do Cepea/Esalq para o etanol hidratado colocado no local subiu 6,2% entre os dias 10 e 14, ou R$ 0,20 por litro.
Porém, com a reversão dos preços do petróleo no início desta semana, a diferença entre os preços da gasolina no mercado interno e externo ficou menor. Antes da queda de ontem, a defasagem calculada pela Datagro já estava em 8,3% - às vésperas do megarreajuste da Petrobras, a diferença era superior a 20%.
“Se o petróleo continuar caindo, pode zerar a defasagem, e a Petrobras pode até corrigir para baixo” o preço da gasolina, comentou Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
Outro fator de incerteza no horizonte é o avanço dos projetos de lei no Congresso que pretendem suavizar os efeitos da volatilidade externa sobre o mercado local de combustíveis. Em boletim assinado pela analista Lívea Coda, a consultoria hEDGEpoint observou que o PL 1472/20, que prevê um fundo de estabilização de preços, e o PLP 11/2020, que reduz a carga tributária, “podem induzir preços mais baixos - pelo menos no curto prazo”.
O que Nastari considera como uma perspectiva mais garantida é a de aumento do consumo de etanol hidratado, ainda que a próxima safra de cana seja limitada por fatores climáticos.
Ele observa que a entrada de novas ofertas de etanol a partir do próximo mês deve aumentar a competitividade do biocombustível nas bombas em relação à gasolina, e os altos valores do derivado fóssil devem por si só estimular uma maior migração do consumo para o combustível renovável.
Esse cenário indica que o preço do etanol poderá funcionar como um “piso” para os preços do açúcar na próxima safra. Mesmo que os preços de açúcar e etanol continuem relativamente próximos, Nastari avalia que as usinas podem se sentir mais estimuladas a produzir etanol, já que as vendas do biocombustível sempre oferecem maior liquidez do que as vendas de açúcar.
Ao mesmo tempo, as cotações do adoçante também encontram um “teto”, que e o valor da paridade de exportação do açúcar indiano, que continua caindo. Com a desvalorização da rúpia indiana nos últimos dias, a Datagro calcula que essa paridade de exportação esteja agora em 19,61 centavos de dólar a libra-peso, deixando uma margem muito estreita de oscilação para o preço internacional da commodity.
Fonte: Valor Econômico