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OPINIÃO: COMO O PETRÓLEO VOLTOU A INFLUENCIAR O PREÇO DO AÇÚCAR – E ONDE ISSO PODE PARAR? - POR MAURICIO MURUCI

A finalização da segunda semana de março de 2022 foi marcada por um histórico ajuste de alta sobre os preços da gasolina no mercado brasileiro promovido pela Petrobras (PETR3; PETR4). Em um único dia, a estatal elevou a gasolina em 18,70%, o diesel S-500 em 24,94%, o diesel S-10 em 24,79% e o gás de cozinha em 16%.

Assim como Nietzsche, que analisava questões muito mais profundas da moralidade ocidental em seu livro “Além do Bem e do Mal”, o nosso objetivo aqui também é analisar as implicações deste recente e histórico ajuste de alta para conceitos muito além da alta no hidratado que esta medida pode provocar em um horizonte imediato de reação do mercado.

Um destes pontos refere-se à correlação de forças entre o petróleo em Londres e o açúcar bruto de Nova York. Em tese, há uma correlação direta entre os preços das duas commodities. Quando uma sobe, é para a outra subir também.

A relação está na questão do mix do açúcar que cai fortemente quando a gasolina se eleva, diante da maior capacidade de remuneração do hidratado que contra mais espaço para reação nos preços sem a perda da competitividade com os ganhos da gasolina. Porém, esta cartilha já não estava sendo seguida pelo mercado com tanta proximidade assim desde meados de 2020.

Os recentes avanços do Brent em direção às máximas recentes de US$ 139 o barril junto a movimentos elevados do açúcar no mesmo período até davam uma impressão de que a correlação se mostrava forte nas últimas semanas. Porém ela se mostrava frágil diante do silencio da estatal sobre eventuais ajustes e frente a manifestações da própria presidência da república sobre a inviabilidade de promover uma busca da paridade internacional dada a um padrão de defasagem que chegava a 50%, isto em um momento quem que o petróleo oscilava em US$ 115 o barri.

De lá para cá, estava com os dias contados uma queda forte no açúcar com base não somente nos seus fundamentos, mas também diante da assimilação iminente do mercado de que níveis próximos aos 20 cents por parte de Maio/22 se mostravam insustentáveis não apenas pelos seus fundamentos, mas pelos sinais de não repasse para a gasolina das altas recentes do petróleo.

Usinas se voltam o máximo possível ao etanol, após alta da gasolina

Porém, em menos de uma semana, veio o anúncio de alta de quase 19% na gasolina e pôs estas expectativas por água abaixo. O caos logístico frente a uma eventual greve dos caminhoneiros até agora sequer foi sinalizado, mas o mesmo não podemos dizer do planejamento financeiro de muitas usinas que, às vésperas de começar a safra nova 2022/23 se voltam às pressas para realocar o máximo possível do seu mix de volta ao etanol. E a correlação de preços do açúcar e do petróleo?

De fato, uma alta histórica deixou o mercado com a percepção de que a Petrobras busca a paridade internacional … ou não. Isto porque, como mencionamos antes, ainda quando o Brent oscilava em US$ 115 o barril, a defasagem oscilava em 50%.

De lá para cá, Brent beirou os US$ 140 e agora oscila em US$ 110. Logo, há ainda uma defasagem entre 10 a 20 pontos porcentuais em relação aos preços externos, isto lembrando que a guerra na Ucrânia sequer tem sinais de acabar. Logo, maior volatilidade é esperada ao longo das próximas semanas sem sinais de que a estatal possa buscar o restante da paridade que ainda falta ser precificada.

 

*Mauricio Muruci é head do setor de inteligência de mercado para Açúcar, Etanol e Petróleo da SAFRAS & Mercado. Atua há 15 anos no setor dentro do grupo CMA e da SAFRAS & Mercado.

 

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do Grupo IDEA.O nosso papel é apenas a veiculação do conteúdo.

 

Fonte: Money Times

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