EXPECTATIVAS QUANTO À PRODUÇÃO E AO CONSUMO DE AÇÚCAR SÃO CONSERVADORAS
O cenário para o mercado doméstico de açúcar para 2022 vem sendo delineado a partir de perspectivas pouco favoráveis – que incluem não apenas os elevados custos com insumos importados e economias doméstica e mundial desaceleradas –, que prejudicam a produção e o consumo da commodity.
Às incertezas em relação às variáveis macroeconômicas, como a taxa de câmbio e a oscilação nos preços de petróleo, somam-se preocupações com o clima – o que pode resultar em nova queda na safra – e, sobretudo, a temores de que a pandemia volte a impactar as economias mundiais. Internamente, a inflação elevada prejudica o poder de compra da população.
Nesta conjuntura, as expectativas quanto à produção e ao consumo de açúcar no Brasil estão conservadoras frente às de 2021, a despeito da aposta na manutenção de preços doméstico e internacionais altos.
O nível de preços praticados parece ter menor relação com os movimentos de oferta e demanda no mercado da commodity que com outros fatores exógenos, podendo-se incluir também o aumento no custo de frete, interno e internacional. Essas sãos as informações do boletim relativo ao mês de janeiro do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
O novo período de moagem se inicia com as sequelas de uma longa estiagem, de ocorrências de geadas e de um grande número de focos de incêndios que assolaram os canaviais da região em 2021. Dessa forma, espera-se uma recuperação tímida.
“As projeções para a colheita de matéria-prima da safra 2022/23 na região Centro-Sul variam entre 520 milhões de toneladas e 578 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. E, mesmo em um cenário otimista, a produção da matéria-prima pode não chegar à capacidade produtiva plena da região, o que certamente limitará o volume de açúcar”, pontua o documento.
Segundo pesquisas, acredita-se que o mix de produção das usinas do Centro-Sul permaneça ligeiramente mais alcooleiro na próxima temporada, semelhante ao da atual temporada 2021/22 – em torno de 55% para o etanol e de 45% para o açúcar.
“Se as variáveis macroeconômicas como o câmbio e petróleo sustentarem os preços da gasolina, o etanol estará mais competitivo e com valores atraentes para as usinas também decorrente de sua liquidez em um contexto de juros elevados”, afirma o centro.
O Cepea analisa ainda que na Índia, preocupações com a crise energética e com emissões de GHG têm feito o país aumentar a produção de etanol. O governo indiano quer elevar a mistura em 20% de etanol na gasolina até 2025. Com isso, a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (Isma) diminuiu a expectativa de produção de açúcar na temporada 2021/22, de 31 milhões de toneladas para 30,5 milhões de toneladas.
“Nesse cenário de clima desfavorável no Brasil e de concorrência do etanol com o açúcar, a produção mundial de açúcar deverá registrar novo déficit na temporada 2021/22. Para a Organização Internacional do Açúcar (OIA), o saldo negativo será de 2,55 milhões de toneladas. Em contrapartida, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê um superávit elevado, de 11,13 milhões de toneladas, na contramão das consultorias e tradings”.
Quanto ao consumo mundial de açúcar, a OIA estima crescimento de 1,16% para a temporada (2021/22) relativamente à anterior, o que corresponde a um volume de 173,03 milhões de toneladas.
A taxa de avanço anual da demanda mundial de açúcar vem diminuindo. No início dos anos 2000, o crescimento anual era de mais de 2%. De acordo com a OIA, a demanda por açúcar está caindo em nações como Tailândia, Brasil e México, parcialmente, devido a campanhas contra o consumo de açúcar – relacionando este à obesidade e diabetes. Vêm se praticando ainda impostos mais elevados sobre o consumo de alimentos açucarados, sem comprovação de que tal fator isoladamente provoca externalidades negativas.
Para o USDA, no entanto, o consumo na próxima temporada deverá aumentar em 2,03% para retomar a patamares próximos ao pré-covid, alcançando volume de 174,55 milhões de toneladas.
Quanto aos preços internacionais, acredita-se que devem seguir em patamar mais elevado, em torno de 19 centavos de dólar/libra-peso, se as economias retomarem o crescimento, o que dará também suporte para os valores brasileiros do adoçante.
“Para o USDA, a previsão de produção de açúcar na temporada 2021/22 é de 16,6 milhões de toneladas, alta de 7,8% sobre o ciclo anterior. Para a China, o USDA estima produção de açúcar ligeiramente menor, de 10,3 milhões de toneladas, queda de 2,86% em relação à safra 2020/21. Na Tailândia, a produção deve aumentar em 10 milhões de toneladas de açúcar na atual temporada 2021/22”, conclui o Cepea.
POR ANDRÉIA VITAL
FONTE: JORNAL CANA