CHUVAS RECENTES GARANTEM RECUPERAÇÃO DE 10% DO RENDIMENTO DOS CANAVIAIS NO CENTRO-SUL
As chuvas acima do esperado em janeiro e no início de fevereiro na região Sudeste e em partes do Centro-Oeste recompuseram parte da necessidade hídrica dos solos e já garantem um bom ambiente para o crescimento dos canaviais para a próxima safra. Na avaliação do Sistema TempoCampo, da Esalq/USP, o clima deste verão favorece uma recuperação de cerca de 10% da produtividade agrícola da cana da safra 2022/23 do Centro-Sul, que começa em abril.
Em um cenário intermediário, o Sistema TempoCampo estima um aumento da produtividade dos canaviais entre 8% e 14% em quase todo o Centro-Sul, com exceção de Paraná e Mato Grosso. Em um cenário otimista, esse nível de recuperação se estende também a esses dois Estados. Mesmo em um cenário pessimista para as chuvas nas próximas semanas, a produtividade tem recuperação de entre 5% e 11% na maior parte do Centro-Sul.
Segundo Fabio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq/USP, as chuvas de janeiro e do início de fevereiro foram suficientes para encher o solo de água e, seguidas de insolação, garantirão um crescimento sem restrição da cana por ao menos mais dez dias, mesmo com ausência de precipitações. “Fazia dois anos que não tínhamos essas condições [de solo]. No fim de janeiro, quase o Estado inteiro [de São Paulo] saturou de umidade. Isso nos garante um fevereiro tranquilo”, disse.
Para ele, um aumento de 10% da produtividade dos canaviais é o mínimo que se pode esperar para a próxima temporada. Essa projeção implica uma produtividade perto de 74 toneladas por hectare, ligeiramente abaixo da média histórica da última década e ainda menor do que na safra 2020/21, quando o rendimento ficou em 77 toneladas por hectare. Porém, já é uma realidade mais distante das 67 toneladas por hectare obtidas na safra que está se encerrando agora (2021/22), e cuja moagem terminou em novembro.
Se a área disponível para colheita não cair em relação a esta safra – o que ainda é uma incógnita –, permanecendo em 7,7 milhões de hectares no Centro-Sul, o volume de cana disponível para moagem pode se aproximar das 567 milhões de toneladas de cana. Porém, uma retração de 2% na área disponível para colheita – seja para dar espaço a renovação de canaviais ou para troca de cultura – já diminuiria esta disponibilidade para 556 milhões de toneladas.
A recuperação, porém, ainda não é completamente uniforme no Centro-Sul. Em algumas microrregiões, como na de Ribeirão Preto e em São José do Rio Preto, que juntas abrigam mais de 2 milhões de hectares de canaviais e foram as que mais sofreram com o clima no ano passado, as chuvas vieram mais volumosas que a média neste verão, enquanto em outras mais ao sul do Estado, como na de Cândido Mota e Assis, as precipitações vieram um pouco abaixo da média.
As previsões meteorológicas indicam manutenção das condições do La Niña neste mês, que marcaram o comportamento climático do início do ano. Isso favorece um tempo mais seco da metade do Paraná para o sul, enquanto em Minas Gerais as chuvas continuarão acima da média. Já São Paulo e Mato Grosso do Sul, que respondem por dois terços da área disponível para colheita de cana no Centro-Sul, continuam como “zona de transição”, com previsões mais incertas, segundo o acadêmico.
Fonte: Valor Econômico