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Etanol quer emitir créditos com carbono armazenado

Aposta do óleo e gás para descarbonizar suas operações, a captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) também está na agenda dos produtores brasileiros de etanol, que esperam poder emitir créditos com o carbono armazenado.

A tecnologia é relativamente nova no mundo. Em escala comercial, existem 32 projetos de CCS pelo globo, e apenas quatro deles na indústria de etanol, nos Estados Unidos.

Por aqui, a indústria já começa a considerar a tecnologia nos seus investimentos, mas ainda depende de um marco legal.

No final de novembro, uma audiência pública no Senado colocou em discussão o marco regulatório proposto por Jean Paul Prates (PT/RN) com as primeiras regras para o armazenamento de carbono.

Um ponto de interesse do setor de etanol — e também do óleo e gás — é a possibilidade de o operador poder desenvolver projetos de créditos de carbono.

“Nós não estamos entrando nisso apenas para fazer net zero, e sim para monetizar esse carbono no mercado voluntário. São investimentos altos e, para que seja atrativo, ele [o operador] tem que ter a liberdade de monetizar”, explica Guilherme Nolasco, presidente da União do Etanol de Milho (Unem).

O setor calcula que a produção alcance 10 bilhões de litros na safra 2030/2031, com potencial de retirada de mais de sete milhões de toneladas de CO2 da atmosfera, volume que equivale a quase 20% da meta do RenovaBio para 2023.

O potencial de investimento calculado pela Unem chega a US$ 1,5 bilhão até o fim da década.

Mas destravar esses recursos depende de um marco legal e a expectativa do setor é ter um texto aprovado já no primeiro semestre do ano que vem.

“Esse governo que entra tem uma grande oportunidade de liderar essa agenda de transição energética e produção de alimentos pelo mundo, e o CCS tem que fazer parte dessa estratégia”, disse Nolasco, durante a audiência no Senado.

A captura de carbono aplicada à bioenergia é conhecida como BioCCS (ou BECCS, em inglês) e promete adicionar sustentabilidade à produção de energia e biocombustíveis.

No caso do etanol de milho brasileiro, a fermentação dos grãos permite o resgate de um CO2 com 98% de pureza para armazenamento. De acordo com a Unem, a cada tonelada de milho é possível capturar 320 kg de CO2

“Uma grande vantagem do setor de etanol e de cana de açúcar poder capturar esse CO2 de forma quase pura de poder armazenar para uma operação carbono zero”, conta.

Durante a fotossíntese, a cana-de-açúcar e o milho capturam o CO2 da atmosfera. A fermentação dos insumos para produção de biocombustíveis separa o CO2 de forma praticamente pura, pronto para ser armazenado.

Ainda segundo Nolasco, o etanol brasileiro tem como uma vantagem a disponibilidade de bacias próprias para o armazenamento. Uma é a bacia do Parecis no Mato Grosso, onde está localizada a maior parte das usinas de etanol de milho.

A outra é a bacia do Paraná, com 1,3 milhões de quilômetros quadrados em uma região que pega Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, e tem até 8 mil metros de espessura.

Aliança na indústria

A falta de cooperação entre os setores da indústria é um dos principais desafios para o atual cenário de desenvolvimento de projetos CCS no Brasil, avalia a diretora executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Fernanda Delgado.

Durante webinar do Global CCS Institute na segunda (12/12), a executiva disse que o Brasil precisa focar na construção de um “eixo para promover a descarbonização”, mas, para isso, deve haver esforço conjunto, a exemplo de outros países, como a Noruega, onde a prática desponta entre as indústrias de óleo e gás.

“O mercado de óleo e gás é o principal propulsor para a tecnologia de captura e armazenamento no Brasil”, acrescentou Delgado.

O setor se destaca principalmente pelo potencial para produção do hidrogênio azul, gerado a partir do gás natural, com o sequestro e armazenamento do dióxido de carbono emitido pelo procedimento.

Modelo de consórcios vem ganhando espaço

Em outubro, Air Liquide, Chevron, LyondellBasell e Uniper anunciaram sua intenção de colaborar em um estudo para instalação de produção de hidrogênio e amônia ao longo da costa do Golfo dos Estados Unidos.

Especificamente, o consórcio avaliará o potencial de produção de hidrogênio usando gás natural com CCS eletrólise com renováveis para abastecer os mercados de uso final, incluindo os mercados de amônia, petroquímicos, energia e mobilidade.

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Se o desenvolvimento prosseguir, o projeto poderá alavancar as vantagens existentes ao longo da Costa do Golfo, incluindo infraestrutura de dutos, para fornecer hidrogênio renovável e de baixo carbono para clusters industriais locais. Da mesma forma, a infraestrutura de amônia poderia apoiar as exportações para a Europa e a região da Ásia-Pacífico.

Também em outubro, a ExxonMobil e a fabricante de produtos de hidrogênio e nitrogênio CF Industries fecharam o maior acordo comercial para capturar e armazenar permanentemente até 2 milhões de toneladas de CO₂ anualmente na Luisiana, estado do sudeste dos EUA.

O início do projeto está programado para 2025 e pretende capturar dois milhões de toneladas de CO2 anualmente.

Plano de hidrogênio

O MME colocou em consulta pública nesta quarta (14/12) plano de trabalho trienal 2023-2025 do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2). Amanhã, o governo apresenta o plano e a primeira iniciativa do PNH2 já concretizada: um painel de dados desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

O evento será virtual, às 10h30, no canal do MME no Youtube, com a presença do ministro Adolfo Sachsida; a diretora da Aneel, Agnes da Costa, e o presidente da EPE, Thiago Barral.

Eletrificados no Rio

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro derrubou parte do veto do governo estadual à Lei 9.870/22, do deputado Carlos Minc (PSB) e do ex-deputado Rubens Bomtempo, que cria medidas de incentivo aos veículos elétricos e híbridos.

Os deputados derrubaram o veto ao artigo que autoriza a concessão de incentivos fiscais para a fomentar a produção e a venda de veículos elétricos e híbridos no estado do Rio. Eles mantiveram o veto ao artigo que previa que toda a frota do sistema de transporte coletivo intermunicipal deveria ser movida à propulsão elétrica até 2035.

Por Nayara Machado - EPBR, via CanaOnline

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